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TENDÊNCIAS/DEBATES
Era necessário criar a taxa municipal
do lixo em São Paulo?
NÃO
O PT e o luxo do lixo
GILBERTO NATALINI
Alguma coisa não soa bem nas
realizações do governo do PT em
São Paulo, sobretudo quando se analisa
a problemática do lixo no município.
Qualquer pessoa com o mínimo de informação e memória recorda-se de que
o PT sempre denunciou um possível superfaturamento das gestões de Paulo
Maluf e Celso Pitta, na coleta de lixo, de
25% acima do custo real.
Pois bem; ao assumir a prefeitura,
Marta Suplicy fez rever os valores e, nas
contratações seguintes, houve um deságio de 2,5% no custo dos contratos. Das
duas, uma: ou o PT mentia quando acusava os ex-prefeitos ou Marta Suplicy
manteve contratos superfaturados de
22,5% durante seus dois primeiros anos
de gestão.
Em seguida, foram descobertas empresas de lixo de origens duvidosas,
com endereços-fantasmas e donos "laranjas", formadas um mês antes da posse do novo governo. Todas essas empresas foram agraciadas com contratos milionários e emergenciais, livres de concorrência. Uma delas, para surpresa geral, tinha sede na videoprodutora que
atuou na campanha de Marta Suplicy.
Ainda no ano passado, realizei uma
fiscalização, por meio de meu gabinete,
em 45 ruas da capital e comprovei que a
varrição do lixo alcançava apenas 30%,
embora a prefeitura continuasse pagando 100% do valor contratual. Institui até
um disque-lixo, que recebeu inúmeras
denuncias semelhantes.
Pedimos, na época, uma CPI do Lixo,
e o PT, na Câmara Municipal, fez "das
tripas coração" para impedir a sua instalação. Quando não teve mais como
evitar, nomeou, através da maioria, um
vereador do partido para presidir as investigações. O resultado do trabalho
não poderia ser outro senão um relatório repleto de elogios à gestão municipal
no que diz respeito à coleta e varrição do
lixo. Apelidamos essa CPI de água morna, apenas para fugir do tradicional jargão "acabou em pizza".
Não satisfeito, entrei com representação no Ministério Público e com pedido
de inquérito na Polícia Civil. Apesar de a
prefeita já ter sido foi ouvida pelo delegado, aguardamos ansiosos o resultado
da investigação.
Sabemos bem, como moradores, que
o problema do lixo é gravíssimo em São
Paulo. A cidade produz uma média de
15 mil toneladas de lixo diariamente e os
aterros sanitários estarão esgotados
dentro de cinco anos. A população não
está suficientemente conscientizada e
ainda deposita lixo em locais indevidos,
transformando os logradouros públicos
e córregos em verdadeiras lixeiras.
Sabemos também que a ação educativa da prefeitura tem sido, na gestão do
PT, irrisória. A coleta seletiva é insignificante e as iniciativas da sociedade civil
não têm o apoio municipal. A prefeita
fala muito e faz pouco. Enquanto isso, a
cidade continua suja e mal cuidada.
E qual não é nossa surpresa, diante do
quadro exposto, quando surge Marta
Suplicy com a proposta da criação da taxa de lixo. Com sua aprovação pela Câmara Municipal em segundo turno
(com meu voto contrário), a prefeitura
vai arrecadar mais R$ 300 milhões por
ano. A mesma taxa de lixo, que já foi
criada -e depois escondida no IPTU-
em 1998, está sendo reinventada agora
pelo revolucionário governo municipal
do Partido dos Trabalhadores. Isso, no
meu entender e no de diversos juristas
renomados, chama-se bitributação, ou
seja, é uma inconstitucionalidade.
Antes de criar uma taxa ou um novo
imposto, o governo, seja ele qual for,
tem de mostrar serviço. Pelo menos isso
é o que o PT sempre pregou. E qual foi o
serviço prestado pela prefeita Marta Suplicy em benefício da limpeza urbana?
Manteve o superfaturamento denunciado pelo seu próprio partido, contratou e pagou empresas-fantasmas, abafou uma CPI, não incentivou a coleta seletiva de acordo com as necessidades do
município e não propôs nenhuma medida alternativa para melhorar o setor.
Por todos esses motivos, e também
pelo péssimo hábito do atual governo
de votar projetos importantes às pressas
e na calada da noite, posicionei-me contra a criação da taxa do lixo a partir de
2003. Ela representa apenas a fúria arrecadatória do PT, que na oposição pregava uma coisa e, no exercício do poder,
desmente tudo, sem a menor cerimônia. Votei contra a taxa de lixo e continuarei votando contra tudo aquilo que
for desfavorável ao já sofrido cidadão
paulistano. São Paulo não pode se dar
ao luxo de ter um lixo assim.
Gilberto Natalini, 50, médico, é vereador, pelo
PSDB, do município de São Paulo.
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