São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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CORRIDA PRESIDENCIAL

Um dos principais eventos de 2004 será a eleição presidencial norte-americana, marcada para novembro. O que está em jogo não é apenas o cargo de maior poder do mundo, mas também a definição dos rumos do planeta pelos próximos anos, talvez décadas. Com efeito, esse não será um pleito ordinário.
De um lado, haverá George W. Bush buscando sua reeleição. De outro, um candidato do Partido Democrata ainda indefinido. Como bem observou recente editorial da revista britânica "The Economist", fala-se muito nas divisões que Bush com sua política provocou na Europa e esquece-se um pouco de que o mesmo ocorre nos próprios EUA.
Não é à toa que o pré-candidato democrata hoje tido como favorito -o que conseguiu levantar mais dinheiro e mais declarações de apoio- é Howard Dean. Em outros tempos, sua candidatura seria vista como quase inviável. Dean é um "outsider". Não pertence à cúpula do partido e o principal cargo que já ocupou foi o de governador do pequeno e politicamente inexpressivo Estado de Vermont. Tem ainda contra si o fato de ser visto como excessivamente liberal. Para os padrões norte-americanos, Dean seria o que há de mais parecido com um socialista.
De modo um pouco paradoxal, foram justamente essas credenciais que o lançaram na frente na corrida pela candidatura democrata. Dos postulantes, Dean foi o único que criticou abertamente a guerra no Iraque. Com isso, arrebatou o aprovação de setores do Partido Democrata e da sociedade civil norte-americana que condenam com um pouco mais de veemência as políticas do atual presidente. Tanto é assim que a maior parte dos outros pré-candidatos democratas mudou de posição e passou a criticar a política externa de George W. Bush.
A definição do candidato democrata deve ocorrer nos próximos 60 dias, quando ocorrem algumas das principais prévias. A corrida começa no dia 19 de janeiro, em Iowa, e culmina com a superterça, 2 de março, quando dez Estados fazem suas primárias. A partir de meados de fevereiro, porém, à medida que mais Estados forem se posicionando, ficará mais claro se a pré-candidatura de Dean terá fôlego ou se é apenas o resultado de um entusiasmo passageiro.
Embora os EUA pareçam hoje profundamente divididos -e de fato estão-, ninguém deve esperar uma reta final de campanha muito radical. Depois que o candidato democrata tiver sido escolhido, a tendência é que os dois concorrentes tentem se mostrar para a população como centristas confiáveis. Bush, por exemplo, evitará falar de temas polêmicos como o aborto, que evidenciem suas posições intransigentes. O mesmo se pode esperar de Dean, caso seja ele mesmo o postulante democrata. Ele dificilmente se posicionará a favor do casamento gay ou qualquer outro tema que ainda divida emocionalmente os norte-americanos.



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