São Paulo, domingo, 04 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Farinha do mesmo saco

SÃO PAULO - Não creio que você, leitor, tenha feito um "oh" de espanto com o fato de o Congresso Nacional ter tido uma avaliação tão negativa em pesquisa do Datafolha publicada na sexta-feira (só 24% de ótimo/bom, menos da metade dos 57% que esperavam o melhor dos parlamentares eleitos em 2002).
O desprestígio dos congressistas já pode ser tido como histórico -talvez por se tratar do Poder mais exposto e mais devassado pela mídia. Pena que não seja esse o único fator a pesar contra a boa imagem de deputados e senadores. Eles próprios dão formidável contribuição para serem tão mal avaliados.
O que torna a pesquisa particularmente inquietante é o fato de que, pela primeira vez, há uma maioria de deputados -ainda que relativa- composta por gente do PT, o partido que fingiu durante toda a sua história ter o monopólio das virtudes republicanas. Se nem esses conseguem reverter a imagem do Parlamento, não vai ser fácil restaurá-la, porque todos os partidos relevantes já foram maioria ou fizeram parte das coalizões governantes -e, em todos esses momentos, o julgamento do Congresso não foi exatamente brilhante.
Mas não deveria haver surpresa. Logo nos primeiros meses da nova gestão na Câmara, a cargo do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), esta Folha mostrou que haviam sido contratados sem concurso cerca de 2.000 funcionários para, na verdade, servir de suporte político-eleitoral para líderes e para membros da Mesa.
O próprio Cunha admite que, se todos os 2.000 comparecerem simultaneamente ao trabalho, não haverá lugar para todos.
Não obstante, o presidente da Câmara defende, sem pudor nenhum, semelhante maracutaia, assim como as demais que estão surgindo mais recentemente no noticiário.
Um político novo, de um partido que se diz a favor da mudança, apenas põe a mão no poder e revela-se farinha do mesmo saco, do saco que ele próprio e o PT passaram a vida criticando. Desse jeito, não há mesmo imagem que se salve.



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