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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Matilde e o "companheiro cartão'
SÃO PAULO - Matilde Ribeiro caiu
de forma humilhante e vexatória, incapaz de justificar os abusos com o
cartão de crédito corporativo. Lula,
desta vez, agiu rápido, o que parece
suspeito. Seu gesto, de qualquer forma, não afasta o constrangimento
nem atenua a gravidade do caso. Ainda resta muito para esclarecer.
O "erro administrativo" que a ex-ministra admitiu, mas sem arrependimentos, em português tem outro
nome. Ou os neoaloprados também
inventaram a sua própria língua?
Não é trivial nem deve passar batido que esse escândalo atinja a pasta
da Igualdade Racial. Mas há evidências até em demasia de que o desvio
envolve outros setores do governo,
inclusive e sobretudo o Planalto. Ao
que parece, criou-se um meio fácil
para patrocinar mordomias privadas
e baratos afins com o dinheiro público. Cerca de 75% dos R$ 75,6 milhões gastos em 2007 foram sacados
em espécie. Algo em torno de R$ 58,7
milhões. Usados para quê?
Já conhecíamos a Lei de Gérson
-o importante é levar vantagem em
tudo, certo? O PT vem consagrar a
Lei de Vavá: o sujeito chega à boca do
caixa, aperta os botões e intima:
- Arruma dois pau pra eu!
Consta que o irmão de Lula voltava para casa de mãos vazias. Já a máquina obedece. O "companheiro cartão" tornou-se um instrumento eficaz do neopatrimonialismo petista.
E a Secretaria da Igualdade Racial,
como fica? Ela era até aqui uma pasta simbólica, pouco mais que um slogan criado para afirmar um compromisso político. Slogan vazio, diga-se.
Em 2007, do seu ridículo Orçamento
de R$ 34 milhões, só conseguiu executar 38% (R$ 13 milhões), a maior
parte com despesas burocráticas.
O assunto da pasta que foi de Matilde é muito sério, mas não o tratamento que o governo Lula lhe dispensa. Não bastou o mensalão; não
bastaram os aloprados. Novamente
tão à vontade no comércio com os
aliados e no manejo da realpolitik, o
"governo popular" -ainda não satisfeito- vem agora aviltar a pasta que
deveria cuidar da nossa triste herança colonial e do racismo. Símbolos
morrem. Lula deveria saber disso.
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