São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2008

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VALDO CRUZ

Diversionismo

BRASÍLIA - Deixe-me ver se entendi: passaram os últimos dias num debate esquizofrênico para descobrir se o desmatamento na Amazônia aumentou em agosto ou dezembro do ano passado? Calma lá, isso não vai fazer nenhuma árvore ressurgir das cinzas.
Será que em agosto era outro governo que não o do Lula? Talvez aí até tivesse algum sentido, empurrar para a gestão anterior a responsabilidade pelas motosserras cortando árvore adoidado.
Mas não. O desmatamento é real. Voltou a subir, depois de registrar quedas na gestão lulista. O atual governo conseguiu reduzir em 59% a taxa num período de três anos. Mas está crescendo de novo. Seja em agosto ou dezembro.
O fato é que o debate está malposto. Cortaram mais árvores? Sim. Não no ritmo de anos anteriores? Talvez. Mas então o que fazer para ter uma Amazônia protegida?
Menos discurso e mais ação é uma idéia. Exemplo: em seu primeiro ano de governo, Lula foi até o Acre. Visitou o túmulo do ambientalista Chico Mendes. Lançou o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Pois o tal plano até hoje não saiu do papel, cinco anos depois de lançado.
Um pouco mais de rumo também não faria mal. Nos últimos dias o governo oscilou entre baixar medidas para conter o desmatamento e, depois, questionar se havia ou não avanço das motosserras.
Por sinal, as tais medidas nem são novas. Boa parte das sanções baixadas para reagir ao avanço do corte de florestas estava à disposição do governo desde sempre. Um decreto dos tempos de FHC já permitia suspender financiamentos oficiais e multar quem promovesse desmatamento ilegal.
Resumo da confusão ambiental dos últimos dias. Um governo mais preocupado em evitar danos à sua imagem, tentando se agarrar a argumentos que possam minimizar sua responsabilidade. Mesmo que à custa de culpar quem só fez disparar o alarme.


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