São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Quércia em leilão

BRASÍLIA - Quem diria? Os anos passam, a roda gira e a política não pára de surpreender, agora colocando o PT e o PSDB numa disputa feroz, encarniçada, para uma aliança com... Orestes Quércia!
Quércia já foi a grande novidade do MDB ao se eleger senador contra uma ditadura militar e, depois, governador de São Paulo. Caiu no ostracismo, mas, espertamente, mantendo um forte controle sobre a máquina peemedebista em São Paulo. Apesar dos pesares, o PMDB ainda é o PMDB, com governadores, grandes bancadas, invejável tempo de TV.
É por isso que Lula e Alckmin pulam em cima de Quércia e lhe oferecem até a candidatura ao Senado para atraí-lo e ao PMDB. Como lembrança: o PSDB foi criado em 1988, entre outras coisas, porque achava que o candidato peemedebista não seria Ulysses, e sim Quércia. E pulou do barco, para tentar Mario Covas.
A aproximação PSDB-PMDB segue a lógica do pragmatismo eleitoral, mas há um dado interessante a mais: o novo comando que Alckmin imprime ao seu partido. FHC e Serra não teriam condições de deflagrar o acordo com Quércia. Alckmin tem.
Na sua cola, Lula autorizou o PT paulista a conversar, negociar, oferecer qualquer coisa para ter Quércia. São dois objetivos: impedir que ele caia no colo dos tucanos e garantir que ele reforce a agora incerta chapa petista, ameaçada pela entrada de Serra na disputa ao Bandeirantes.
Lembre-se que Quércia ressurgiu das cinzas quando a pesquisa Datafolha identificou que ele estava, nada mais, nada menos, em primeiro lugar para o governo. Foi um clique para despertar PT e PSDB para o "fator Quércia" em São Paulo.
E Alckmin levou isso ainda mais adiante. Quércia pode ser o pivô da super-aliança nacional com a qual o tucano sonha: PSDB, PFL, PMDB, PPS e PV. Uma chapa trator. Mesmo passando por cima de antigas e proclamadas divergências no jeito de ver a política e de usufruir dela.

@ - elianec@uol.com.br


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