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CARLOS HEITOR CONY
Sangue e cara-de-pau
RIO DE JANEIRO - O cronista Rubem Braga passou uma temporada fora
do país e, quando voltou aos pagos,
descobriu que a única novidade que
o Brasil havia produzido fora o
Hollywood com filtro.
Para os que não sabem, Hollywood
era marca de um cigarro, acho que o
top de linha da Souza Cruz. E cigarro
com filtro era novidade para atenuar
os males do fumo, representava um
avanço tecnológico apreciável. O filtro seria um ancestral da camisinha.
Os mais ortodoxos, como eu, continuaram fumando sem filtro, o próprio Rubem Braga não o aceitou.
Grande Rubem.
Passei quatro semanas fora do país,
desconectado de tudo e, como sempre, tinha engulhos quando via em
qualquer lugar, jornal ou TV, qualquer notícia sobre o Brasil. Chamo a
isso profilaxia física e mental. Sabia
que ao voltar haveria alguma novidade, coisa transcendental, como um
cigarro com filtro ou uma pizza sem
mozarela -que aumenta o colesterol dos corretamente sadios.
Dirão que estou sendo mais tapado
do que costumo ser. Afinal, um brasileiro subiu ao espaço, um ministro da
Fazenda, que durante três anos e
meio se ocupava dos trilhões de reais
de nossas burras, ficou impressionado com um depósito mixuruca na
conta de um caseiro que ele nem conhecia.
O presidente da República, que
continua não sabendo de nada, fez
mais um elogio àqueles que, como
ele, só aprenderam as lições da vida,
incluindo entre as lições de vida na
qual se destacou, o aperfeiçoamento
de uma cara-de-pau exemplar. Tem
na ponta da língua a escalação do
seu time de futebol, mas duvido que
saiba o nome de metade de seu atual
ministério.
Obrigado pelo ofício a ver como vão
as coisas, não sei se ainda há Hollywood com ou sem filtro. Antigamente, somente os jornais que se dedicavam ao crime comum pingavam sangue. "Pau comeu na noite de núpcias", foi a manchete de um deles.
Hoje, qualquer jornal, os mais austeros, exige sangue. E a cara-de-pau
de Lula nos come todos os dias.
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