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Mineirinho come-quieto
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Pedro Malan é só um funcionário público aplicado, não entra
em bola dividida e não tem a menor
vocação para o poder. Certo? Errado.
Malan tem aquela cara sonsa, um
jeito meio tímido, uma certa ojeriza a
holofotes e um evidente desconforto
diante de jornalistas. Mas não tem
nada de bobo. E se agarrou ao Ministério da Fazenda com unhas e dentes.
Bem fez ele, que trabalhou a vida inteira no serviço público, participou da
fantástica operação de troca de moeda e vem aguentando altos e baixos do
governo que deixariam qualquer um
zonzo. Pular fora com a crise a cem
por hora seria o fim.
A sobrevalorização do câmbio foi
longe demais? Culpa do Gustavo
Franco. A flutuação foi no pior momento? Culpa do Francisco Lopes. O
ajuste fiscal nunca foi feito? Culpa do
Congresso e dos governadores.
Malan, como todo mundo sabe,
nunca tem culpa de nada. E vai levando a vida e o cargo, sempre aliado, fiel
e confidente do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Vez ou outra, joga
a toalha. FHC vai lá e devolve.
Todos os pais, tios e padrinhos do
real saíram do governo: Pérsio Arida,
André Lara Resende, Gustavo Franco,
Gustavo Loyola, Chico Lopes e Demósthenes Madureira de Pinho.
Malan, ao contrário, continua firme
e forte. Diz-se que está cansado, ele
banca o novo presidente do Banco do
Brasil; que está fraco, ele nomeia o do
Banco Central; que está caindo, ele faz
o ministro do Planejamento.
Foi assim que, além de manter o comando da economia, instalou sua turma no resto: Amaury Bier promovido
a seu secretário-executivo, Pedro Parente assumindo o Planejamento na
terça, Edward Amadeo mudando de
mala, cuia e secretaria para a Fazenda. Sem falar em Armínio Fraga e
equipe no BC.
É difícil imaginar Malan até o fim
do segundo mandato, mas aparentemente ele não sai tão cedo. E, mesmo
que saísse, seu espírito estaria para
sempre encarnado no governo FHC.
Antes, apostava-se que ele cairia
porque daria tudo errado. Agora,
aposta-se que ele só sai se tudo der
certo. E se ele próprio quiser.
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