São Paulo, Domingo, 04 de Abril de 1999
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Mineirinho come-quieto

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Pedro Malan é só um funcionário público aplicado, não entra em bola dividida e não tem a menor vocação para o poder. Certo? Errado.
Malan tem aquela cara sonsa, um jeito meio tímido, uma certa ojeriza a holofotes e um evidente desconforto diante de jornalistas. Mas não tem nada de bobo. E se agarrou ao Ministério da Fazenda com unhas e dentes.
Bem fez ele, que trabalhou a vida inteira no serviço público, participou da fantástica operação de troca de moeda e vem aguentando altos e baixos do governo que deixariam qualquer um zonzo. Pular fora com a crise a cem por hora seria o fim.
A sobrevalorização do câmbio foi longe demais? Culpa do Gustavo Franco. A flutuação foi no pior momento? Culpa do Francisco Lopes. O ajuste fiscal nunca foi feito? Culpa do Congresso e dos governadores.
Malan, como todo mundo sabe, nunca tem culpa de nada. E vai levando a vida e o cargo, sempre aliado, fiel e confidente do presidente Fernando Henrique Cardoso. Vez ou outra, joga a toalha. FHC vai lá e devolve.
Todos os pais, tios e padrinhos do real saíram do governo: Pérsio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Gustavo Loyola, Chico Lopes e Demósthenes Madureira de Pinho.
Malan, ao contrário, continua firme e forte. Diz-se que está cansado, ele banca o novo presidente do Banco do Brasil; que está fraco, ele nomeia o do Banco Central; que está caindo, ele faz o ministro do Planejamento.
Foi assim que, além de manter o comando da economia, instalou sua turma no resto: Amaury Bier promovido a seu secretário-executivo, Pedro Parente assumindo o Planejamento na terça, Edward Amadeo mudando de mala, cuia e secretaria para a Fazenda. Sem falar em Armínio Fraga e equipe no BC.
É difícil imaginar Malan até o fim do segundo mandato, mas aparentemente ele não sai tão cedo. E, mesmo que saísse, seu espírito estaria para sempre encarnado no governo FHC.
Antes, apostava-se que ele cairia porque daria tudo errado. Agora, aposta-se que ele só sai se tudo der certo. E se ele próprio quiser.


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