São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Um dia de Polyana

SÃO PAULO - Vou correr o tremendo risco de ser um pouco Polyana nessa questão do terrorismo eleitoral que volta a assolar o país tropical.
Motivo principal do "polyanismo": o comunicado que Fabio Barbosa, presidente do ABN Amro, o banco holandês, publicou nos jornais de ontem para discordar da análise do especialista do próprio banco a respeito das perspectivas brasileiras.
Diz o comunicado, entre outros pontos: "Entendemos que a economia brasileira tem fundamentos sólidos e defendemos o pluralismo de idéias como sendo vital no processo de evolução democrática".
É verdade que os fundamentos não são tão sólidos assim, mas a reafirmação da crença no pluralismo é tremendamente saudável.
Dirão os "não-Polyanas" (que, ademais, quase sempre têm razão) que se trata apenas de um disfarce politicamente correto a que se viu obrigado o presidente do banco. Mas, no íntimo, a declaração não corresponderia nem aos seus instintos básicos nem aos dos outros banqueiros.
Talvez. Mas, em cenas explícitas de terrorismo eleitoral anteriores, nunca houve pudor ou disfarce. Se é disfarce ou se corresponde ao sentimento mais profundo de Fabio Barbosa, de qualquer modo houve uma mudança ambiental importante.
Não quer dizer, é claro, que o terrorismo cessará. É mais provável até que aumente. Mas torna mais explícito o quanto há nele de veto ao "pluralismo de idéias" ou de pura especulação. O Brasil tem, de fato, vulnerabilidades econômicas (estruturais e/ ou agravadas pelo reinado FHC) que explicam certos movimentos dos agentes financeiros.
Mas, como é óbvio, tais vulnerabilidades não podem ser atribuídas a Luiz Inácio Lula da Silva ou a qualquer outro candidato oposicionista. Usar o fantasma de uma vitória de Lula (ou de Ciro ou de Garotinho) é, pois, má-fé declarada.


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