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CLÓVIS ROSSI
Um dia de Polyana
SÃO PAULO - Vou correr o tremendo risco de ser um pouco Polyana nessa
questão do terrorismo eleitoral que
volta a assolar o país tropical.
Motivo principal do "polyanismo":
o comunicado que Fabio Barbosa,
presidente do ABN Amro, o banco
holandês, publicou nos jornais de ontem para discordar da análise do especialista do próprio banco a respeito
das perspectivas brasileiras.
Diz o comunicado, entre outros
pontos: "Entendemos que a economia brasileira tem fundamentos sólidos e defendemos o pluralismo de
idéias como sendo vital no processo
de evolução democrática".
É verdade que os fundamentos não
são tão sólidos assim, mas a reafirmação da crença no pluralismo é tremendamente saudável.
Dirão os "não-Polyanas" (que, ademais, quase sempre têm razão) que se
trata apenas de um disfarce politicamente correto a que se viu obrigado o
presidente do banco. Mas, no íntimo,
a declaração não corresponderia
nem aos seus instintos básicos nem
aos dos outros banqueiros.
Talvez. Mas, em cenas explícitas de
terrorismo eleitoral anteriores, nunca houve pudor ou disfarce. Se é disfarce ou se corresponde ao sentimento mais profundo de Fabio Barbosa,
de qualquer modo houve uma mudança ambiental importante.
Não quer dizer, é claro, que o terrorismo cessará. É mais provável até
que aumente. Mas torna mais explícito o quanto há nele de veto ao "pluralismo de idéias" ou de pura especulação. O Brasil tem, de fato, vulnerabilidades econômicas (estruturais e/
ou agravadas pelo reinado FHC) que
explicam certos movimentos dos
agentes financeiros.
Mas, como é óbvio, tais vulnerabilidades não podem ser atribuídas a
Luiz Inácio Lula da Silva ou a qualquer outro candidato oposicionista.
Usar o fantasma de uma vitória de
Lula (ou de Ciro ou de Garotinho) é,
pois, má-fé declarada.
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