São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

A razão dos bancos

BRASÍLIA - Fui repórter de economia antes do exílio confortável em Brasília. Convivi profissionalmente com banqueiros nos anos 80, durante a crise da dívida externa brasileira. Conheço essa gente.
Sem fazer juízo de valor político das recomendações negativas de bancos estrangeiros sobre o Brasil, é importante registrar o seguinte sem emoção: eles estão corretíssimos ao dizerem que haverá alguma incerteza extra com a vitória de um candidato de oposição à sucessão de FHC.
Antes que algum petista mais radical comece a redigir uma carta enfurecida, aos fatos.
Primeiro, o óbvio. O Brasil está em situação desconfortável economicamente. Apesar das reformas liberais, ainda há muito a fazer. A vulnerabilidade é grande. A dívida pública é enorme. Os juros estão nas alturas. Qualquer presidente eleito terá dificuldades para governar -como já registrou Janio de Freitas.
Nesse contexto desfavorável, é evidente que a vitória de Lula adiciona incerteza ao cenário hoje benéfico aos bancos. Por exemplo, até um petista sabe que um governo Lula dificilmente teria feito um Proer como FHC. Haveria mais debate, mais investigação. Talvez no final o sistema financeiro fosse salvo, mas o processo demoraria mais -o que é uma virtude, pois mais discussão implica mais tempero democrático.
Ocorre que os mercados não têm nada a ver com democracia. Preocupam-se com o capital. Na lógica dessa gente, Lula não será tão bom para eles ganharem dinheiro como foi FHC e como poderá vir a ser José Serra. Não está errado esse raciocínio.
É burrice imaginar os bancos recomendando a seus clientes o mesmo comportamento num governo Lula ou num governo Serra.
Lula e os petistas têm um desafio enorme. Demonstrar a partir de agora, todos os dias, o que farão para anular a turbulência que virá -por mais injusta e infundada que seja a razão para a tal turbulência existir.


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