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FERNANDO RODRIGUES
A razão dos bancos
BRASÍLIA - Fui repórter de economia antes do exílio confortável em Brasília. Convivi profissionalmente com
banqueiros nos anos 80, durante a
crise da dívida externa brasileira. Conheço essa gente.
Sem fazer juízo de valor político das
recomendações negativas de bancos
estrangeiros sobre o Brasil, é importante registrar o seguinte sem emoção: eles estão corretíssimos ao dizerem que haverá alguma incerteza extra com a vitória de um candidato de
oposição à sucessão de FHC.
Antes que algum petista mais radical comece a redigir uma carta enfurecida, aos fatos.
Primeiro, o óbvio. O Brasil está em
situação desconfortável economicamente. Apesar das reformas liberais,
ainda há muito a fazer. A vulnerabilidade é grande. A dívida pública é
enorme. Os juros estão nas alturas.
Qualquer presidente eleito terá dificuldades para governar -como já
registrou Janio de Freitas.
Nesse contexto desfavorável, é evidente que a vitória de Lula adiciona
incerteza ao cenário hoje benéfico
aos bancos. Por exemplo, até um petista sabe que um governo Lula dificilmente teria feito um Proer como
FHC. Haveria mais debate, mais investigação. Talvez no final o sistema
financeiro fosse salvo, mas o processo
demoraria mais -o que é uma virtude, pois mais discussão implica
mais tempero democrático.
Ocorre que os mercados não têm
nada a ver com democracia. Preocupam-se com o capital. Na lógica dessa
gente, Lula não será tão bom para
eles ganharem dinheiro como foi
FHC e como poderá vir a ser José Serra. Não está errado esse raciocínio.
É burrice imaginar os bancos recomendando a seus clientes o mesmo
comportamento num governo Lula
ou num governo Serra.
Lula e os petistas têm um desafio
enorme. Demonstrar a partir de agora, todos os dias, o que farão para
anular a turbulência que virá -por
mais injusta e infundada que seja a
razão para a tal turbulência existir.
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