São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Carinho, por favor

PARIS - Pode-se concordar ou discordar, até radicalmente, de toda a política externa brasileira. Pode-se também concordar ou discordar, até radicalmente, das críticas que o governo argentino vem fazendo, em tom cada vez mais alto, ao seu sócio no Mercosul.
Do que não dá para discordar é da seguinte frase do chanceler Celso Amorim, extraída, aliás, do mais puro sentido comum: "Não sei quem tem a ganhar com uma divisão Brasil/Argentina, mas sei que certamente não somos nós".
O "nós" da frase pode ser o Brasil como podem ser os dois países. Mas não há o mais leve traço de vantagem em uma discórdia entre eles. Mais ainda se se considerar que não dá para entender direito o que causou a nova pendência, a menos que se trate de uma contaminação pelo caso Grafite/Desábato.
Do lado argentino, leia-se o que escreveu Martín Granovsky, subdiretor do jornal "Página12" e um dos melhores analistas do país:
"O Brasil pode ser antipático, hegemônico ou hegemonizador, auto-referencial, imperial, injusto ou discriminador com os produtos argentinos. E freqüentemente o é. Mas, ainda que a política externa argentina não deva esgotar-se em Brasília, é difícil imaginar uma inserção no mundo sem uma firme sociedade com um país ao qual a Argentina vendeu, no ano passado, produtos no valor de US$ 5,479 bilhões (pouco menos que à União Européia inteira e quase o dobro do que vendeu aos Estados Unidos)".
Mude-se aqui e ali uma vírgula, um número acolá e pode-se fazer raciocínio bastante semelhante pelo lado inverso, ou seja, do Brasil para com a Argentina.
Nem há, na prática, um grande "case" a partir do qual montar uma batalha verbal que todo mundo sabe que não irá a lugar algum porque os dois países estão condenados pela geografia a se unirem, ainda que a contragosto. Se é assim, não seria melhor com algum carinho?

@ - crossi@uol.com.br


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