|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Carinho, por favor
PARIS - Pode-se concordar ou discordar, até radicalmente, de toda a política externa brasileira. Pode-se também concordar ou discordar, até radicalmente, das críticas que o governo argentino vem fazendo, em tom
cada vez mais alto, ao seu sócio no
Mercosul.
Do que não dá para discordar é da
seguinte frase do chanceler Celso
Amorim, extraída, aliás, do mais puro sentido comum: "Não sei quem
tem a ganhar com uma divisão Brasil/Argentina, mas sei que certamente
não somos nós".
O "nós" da frase pode ser o Brasil
como podem ser os dois países. Mas
não há o mais leve traço de vantagem
em uma discórdia entre eles. Mais
ainda se se considerar que não dá para entender direito o que causou a
nova pendência, a menos que se trate
de uma contaminação pelo caso Grafite/Desábato.
Do lado argentino, leia-se o que escreveu Martín Granovsky, subdiretor
do jornal "Página12" e um dos melhores analistas do país:
"O Brasil pode ser antipático, hegemônico ou hegemonizador, auto-referencial, imperial, injusto ou discriminador com os produtos argentinos.
E freqüentemente o é. Mas, ainda
que a política externa argentina não
deva esgotar-se em Brasília, é difícil
imaginar uma inserção no mundo
sem uma firme sociedade com um
país ao qual a Argentina vendeu, no
ano passado, produtos no valor de
US$ 5,479 bilhões (pouco menos que
à União Européia inteira e quase o
dobro do que vendeu aos Estados
Unidos)".
Mude-se aqui e ali uma vírgula, um
número acolá e pode-se fazer raciocínio bastante semelhante pelo lado inverso, ou seja, do Brasil para com a
Argentina.
Nem há, na prática, um grande
"case" a partir do qual montar uma
batalha verbal que todo mundo sabe
que não irá a lugar algum porque os
dois países estão condenados pela
geografia a se unirem, ainda que a
contragosto. Se é assim, não seria melhor com algum carinho?
@ - crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: MAU EXEMPLO NA CÂMARA Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Intrigalhada no PT Índice
|