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MARCIO AITH
A verdadeira agenda perdida
SÃO PAULO - O governo reforçou a percepção de que trata trabalhadores
e bancos de forma desigual.
Aos primeiros, o adiamento da correção na tabela do Imposto de Renda
e a ameaça de compensar qualquer
queda na arrecadação com novas
medidas fiscais.
Aos bancos, a magnanimidade da
promessa de racionalização do sistema tributário. Em breve, o Fisco deve
transferir aos bancos a prioridade no
recebimento de empresas falidas com
o argumento de que o sistema financeiro ficará mais benevolente se houver garantias firmes no caso de inadimplência. Essa mudança virá na
reforma da Lei de Falências, que
avançou quarta-feira no Senado.
Qual é a relação entre a correção da
tabela do IR e a reforma da Lei de Falências? Enorme.
A reforma da Lei de Falências parte
do pressuposto de que o crédito não
chega barato aos brasileiros porque
os bancos, sedentos para irrigar a
economia, não conseguem fazê-lo
por culpa de uma lei obsoleta e de
empresários falidos e inescrupulosos.
O raciocínio segue assim: se os bancos
ganharem mais poder, darão mais
crédito aos pobres mortais e, com isso, estimularão novos investimentos
e o consumo. Esse mantra faz parte
da famigerada "Agenda Perdida",
conjunto de propostas econômicas liberais elaborado, entre outros, pelo
secretário de Política Econômica da
Fazenda, Marcos Lisboa.
Se o governo busca colocar dinheiro
no bolso das pessoas, por que não o
faz sem beneficiar intermediários
nem estimular o endividamento?
Segundo cálculos do Dieese, a Receita vai tirar do trabalhador neste
ano o valor de R$ 1,7 bilhão ao não
corrigir a tabela do IR em 11,32%
-defasagem registrada no governo
Lula até março. Se calcularmos a defasagem entre 1996 e março passado
(55,3%), R$ 6,3 bilhões serão transferidos dos salários para o governo somente em 2004.
Pode até haver argumentos sólidos
em favor da reforma da Lei de Falências, mas esses argumentos não combinam com o tratamento dado aos
trabalhadores.
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