São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IGOR GIELOW

Os inocentes

BRASÍLIA - Uma das marcas peculiares do condomínio governo federal-PT é a tocante inocência de seus mais graúdos peixes.
O ministro José Dirceu nunca soube de irregularidade praticada por Waldomiro Diniz. Humberto Costa, titular da Saúde, desconhecia ato suspeito praticado por Luiz Cláudio Gomes da Silva. O tesoureiro do PT, Delúbio Soares, nunca imaginou que Laerte Correa Júnior pudesse ser acusado de participar de qualquer desvio.
Pessoa do convívio de Dirceu há anos, Diniz foi pego em um vídeo pedindo propina em 2002 e acabou caindo de seu cargo na Casa Civil. Silva, homem de confiança de Costa no Ministério da Saúde, foi detido sob acusação de desvios em licitações. A PF prendeu Correa, que tinha relação muito boa com Delúbio, na mesma apuração, a Operação Vampiro.
Diniz, Silva e Correa são inocentes até que se prove o contrário, é lógico. Mas não é deles que se fala aqui. Sua presunção de inocência não isenta as figuras públicas citadas acima da obrigação de suspeitar. Um desconto pode ser feito a Delúbio, que não tem cargo no governo e é de um ramo que convida a alguns silêncios.
Mas há uma repetição de padrão entre esses petistas. Todos sempre conhecem todo mundo, mas não sabem nada do que eles fazem. Das duas, uma: ou sabem e escondem, ou são incompetentes ao escolher com quem andam. Descobertos, não durariam um dia numa empresa séria.
Para sua sorte, o chefe Lula está preocupado com coisas mais importantes. Deve falar delas hoje na reunião ministerial, discursando sobre como o país encontrou seu lugar ao sol na selva da globalização graças à política externa agressiva. Que os EUA tremem ao pensar em embates comerciais com o Brasil. Como a sua viagem à Síria "pagou", para usar as palavras desastrosas do ministro Luiz Fernando Furlan, o seu Airbus zero quilômetro. Problemas? Imagine, deixa disso, o PIB cresceu.
Chegados a uma ordem unida, os petistas podem relaxar. Têm a quem culpar por sua, digamos, inocência.


Texto Anterior: São Paulo - Marcio Aith: A verdadeira agenda perdida
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Gabriela Wolthers: Máquina de facínoras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.