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IGOR GIELOW
Os inocentes
BRASÍLIA - Uma das marcas peculiares do condomínio governo federal-PT é a tocante inocência de seus mais
graúdos peixes.
O ministro José Dirceu nunca soube
de irregularidade praticada por Waldomiro Diniz. Humberto Costa, titular da Saúde, desconhecia ato suspeito praticado por Luiz Cláudio Gomes
da Silva. O tesoureiro do PT, Delúbio
Soares, nunca imaginou que Laerte
Correa Júnior pudesse ser acusado de
participar de qualquer desvio.
Pessoa do convívio de Dirceu há
anos, Diniz foi pego em um vídeo pedindo propina em 2002 e acabou
caindo de seu cargo na Casa Civil.
Silva, homem de confiança de Costa
no Ministério da Saúde, foi detido
sob acusação de desvios em licitações.
A PF prendeu Correa, que tinha relação muito boa com Delúbio, na mesma apuração, a Operação Vampiro.
Diniz, Silva e Correa são inocentes
até que se prove o contrário, é lógico.
Mas não é deles que se fala aqui. Sua
presunção de inocência não isenta as
figuras públicas citadas acima da
obrigação de suspeitar. Um desconto
pode ser feito a Delúbio, que não tem
cargo no governo e é de um ramo que
convida a alguns silêncios.
Mas há uma repetição de padrão
entre esses petistas. Todos sempre conhecem todo mundo, mas não sabem
nada do que eles fazem. Das duas,
uma: ou sabem e escondem, ou são
incompetentes ao escolher com quem
andam. Descobertos, não durariam
um dia numa empresa séria.
Para sua sorte, o chefe Lula está
preocupado com coisas mais importantes. Deve falar delas hoje na reunião ministerial, discursando sobre
como o país encontrou seu lugar ao
sol na selva da globalização graças à
política externa agressiva. Que os
EUA tremem ao pensar em embates
comerciais com o Brasil. Como a sua
viagem à Síria "pagou", para usar as
palavras desastrosas do ministro
Luiz Fernando Furlan, o seu Airbus
zero quilômetro. Problemas? Imagine, deixa disso, o PIB cresceu.
Chegados a uma ordem unida, os
petistas podem relaxar. Têm a quem
culpar por sua, digamos, inocência.
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