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CLAUDIA ANTUNES
Impasse na zona sul
RIO DE JANEIRO - Há quatro dias pela frente, a campanha na TV começou ontem, mas a adesão da classe
média carioca ao "Basta, eu quero
paz" é por enquanto muito tímida,
mesmo com a participação significativa de organizações não-governamentais. Nada que lembre novembro
de 1995, quando a zona sul lotou o
centro da cidade no protesto "Reage,
Rio", depois de uma onda de sequestros de pessoas da alta sociedade.
Como não é de bom tom, ninguém
dizia, mas naquela época muita gente acreditava que a violência era um
caso só de polícia. A resposta do governo do Estado foi uma ofensiva
contra as gangues, que deteve os sequestros milionários. Quem podia reforçou a segurança pessoal e todos
acharam que parte do problema estava resolvida.
A criminalidade, porém, não foi detida. E, se a pobreza não pode ser
apontada como sua única causa -os
estudiosos gostam de citar o exemplo
da Índia-, o óbvio é que ela se nutre
das proverbiais desigualdades brasileiras, mais visíveis nas grandes cidades. A guerra à violência põe em xeque as ilusões que a classe média
construiu para si nos últimos 30 anos.
Daí sua reticência.
Nos anos 70, a classe média acreditou no milagre econômico e achou
que podia prescindir do ensino público. Rumou para os colégios particulares. Nas férias, descobriu a Disneylândia. Depois, quando a Constituição de 1988 estendeu a todos o direito
à saúde, confiou nos planos privados.
Em 1994, caiu no conto do real forte e
aderiu à febre dos importados. Produziu os turistas mais perdulários;
quis trazer Miami para casa.
Só uma ínfima minoria vive segundo padrões tão abonados. Mas sua
ideologia contamina quem está alguns degraus abaixo. O manifesto do
"Basta, eu quero paz" pede "mais justiça social para este país iníquo". A
Unesco, num abaixo-assinado internacional "pela cultura da paz", pretende comprometer os signatários
com o "consumo responsável". São
metas que pressupõem um projeto
coletivo. Não uma corrida desesperada por status.
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