São Paulo, terça-feira, 04 de julho de 2000


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CLAUDIA ANTUNES

Impasse na zona sul

RIO DE JANEIRO - Há quatro dias pela frente, a campanha na TV começou ontem, mas a adesão da classe média carioca ao "Basta, eu quero paz" é por enquanto muito tímida, mesmo com a participação significativa de organizações não-governamentais. Nada que lembre novembro de 1995, quando a zona sul lotou o centro da cidade no protesto "Reage, Rio", depois de uma onda de sequestros de pessoas da alta sociedade.
Como não é de bom tom, ninguém dizia, mas naquela época muita gente acreditava que a violência era um caso só de polícia. A resposta do governo do Estado foi uma ofensiva contra as gangues, que deteve os sequestros milionários. Quem podia reforçou a segurança pessoal e todos acharam que parte do problema estava resolvida.
A criminalidade, porém, não foi detida. E, se a pobreza não pode ser apontada como sua única causa -os estudiosos gostam de citar o exemplo da Índia-, o óbvio é que ela se nutre das proverbiais desigualdades brasileiras, mais visíveis nas grandes cidades. A guerra à violência põe em xeque as ilusões que a classe média construiu para si nos últimos 30 anos. Daí sua reticência.
Nos anos 70, a classe média acreditou no milagre econômico e achou que podia prescindir do ensino público. Rumou para os colégios particulares. Nas férias, descobriu a Disneylândia. Depois, quando a Constituição de 1988 estendeu a todos o direito à saúde, confiou nos planos privados. Em 1994, caiu no conto do real forte e aderiu à febre dos importados. Produziu os turistas mais perdulários; quis trazer Miami para casa.
Só uma ínfima minoria vive segundo padrões tão abonados. Mas sua ideologia contamina quem está alguns degraus abaixo. O manifesto do "Basta, eu quero paz" pede "mais justiça social para este país iníquo". A Unesco, num abaixo-assinado internacional "pela cultura da paz", pretende comprometer os signatários com o "consumo responsável". São metas que pressupõem um projeto coletivo. Não uma corrida desesperada por status.



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