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ELIANE CANTANHÊDE
O boné de Rossetto
BRASÍLIA - Quem meteu o boné vermelho do MST na cabeça? O Lula dos
palanques ou o dos palácios?
Em outras palavras, o candidato de
89, 94 e 98, comprometido com os
sem-terra, com a CUT e com bandeiras da esquerda? Ou o presidente que
assumiu em 2003 sob elogios do capital interno e internacional?
Na verdade, quem meteu o boné foram ambos. O Lula identificado com
uma história e um discurso e o Lula
que precisa negociar com movimentos já arredios, um tanto ameaçadores, e que podem efetivamente se
transformar num problemaço.
Ninguém espera o aval de um presidente, qualquer presidente, para invasões de terras, saques e outras ilegalidades. Mas não se pode exigir que
parta para uma guerra contra um
movimento tão disseminado nacionalmente. Ele precisa ser firme, de
um lado, e cauteloso, de outro.
Por isso, a simbologia de Lula com
o boné vermelho na cabeça pode não
ser boa e incomodar muita gente,
mas não vale uma tempestade em copo d'água. Nem achar lindo, como
parte da esquerda achou, nem ser tão
virulento, como a oposição foi. O artigo do senador Bornhausen na Folha
faz justas cobranças, mas é excessivamente marcado pelo traço de oposição e pelo viés ideológico.
O bom senso diz que o MST existe, é
forte e tem uma bandeira justa, mas
sua tática é ilegal e pode comprometer o governo que é o mais próximo
do que são e dizem os seus líderes (pelo menos em público).
Mais sério e mais preocupante do
que o símbolo do boné é o fato de Lula ter nomeado Miguel Rossetto para
a Reforma Agrária. Simpatizante
das invasões, perde em assentamentos para o governo FHC. Além de ter
"aparelhado" o Incra (e nisso Bornhausen tem razão) com gente ligada ao próprio MST. O que só aumenta a tensão numa área já tensa.
A questão agrária "neste país" (expressão preferida de Lula) é um problema dramático e crônico. Com a
direita fazendo escândalo por causa
de um boné e os Rossetto tomando de
assalto a máquina pública da reforma, não tem remédio que dê jeito.
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