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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

O boné de Rossetto

BRASÍLIA - Quem meteu o boné vermelho do MST na cabeça? O Lula dos palanques ou o dos palácios?
Em outras palavras, o candidato de 89, 94 e 98, comprometido com os sem-terra, com a CUT e com bandeiras da esquerda? Ou o presidente que assumiu em 2003 sob elogios do capital interno e internacional?
Na verdade, quem meteu o boné foram ambos. O Lula identificado com uma história e um discurso e o Lula que precisa negociar com movimentos já arredios, um tanto ameaçadores, e que podem efetivamente se transformar num problemaço.
Ninguém espera o aval de um presidente, qualquer presidente, para invasões de terras, saques e outras ilegalidades. Mas não se pode exigir que parta para uma guerra contra um movimento tão disseminado nacionalmente. Ele precisa ser firme, de um lado, e cauteloso, de outro.
Por isso, a simbologia de Lula com o boné vermelho na cabeça pode não ser boa e incomodar muita gente, mas não vale uma tempestade em copo d'água. Nem achar lindo, como parte da esquerda achou, nem ser tão virulento, como a oposição foi. O artigo do senador Bornhausen na Folha faz justas cobranças, mas é excessivamente marcado pelo traço de oposição e pelo viés ideológico.
O bom senso diz que o MST existe, é forte e tem uma bandeira justa, mas sua tática é ilegal e pode comprometer o governo que é o mais próximo do que são e dizem os seus líderes (pelo menos em público).
Mais sério e mais preocupante do que o símbolo do boné é o fato de Lula ter nomeado Miguel Rossetto para a Reforma Agrária. Simpatizante das invasões, perde em assentamentos para o governo FHC. Além de ter "aparelhado" o Incra (e nisso Bornhausen tem razão) com gente ligada ao próprio MST. O que só aumenta a tensão numa área já tensa.
A questão agrária "neste país" (expressão preferida de Lula) é um problema dramático e crônico. Com a direita fazendo escândalo por causa de um boné e os Rossetto tomando de assalto a máquina pública da reforma, não tem remédio que dê jeito.


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