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MARCELO BERABA
Casas de maribondos
RIO DE JANEIRO - Toda reforma contraria interesses. Elas podem derrubar um governo, como ocorreu em
64, ou podem ser simplesmente mitigadas, como é mais frequente.
Desde 1988 que vivemos o consenso
aparente da necessidade de reformas
institucionais que garantam mais
justiça, mais oportunidades e mais
cidadania. Não se pode dizer que nada foi feito, mas os problemas continuam aí, sempre graves, porque temos cada vez mais gente às margens
dos direitos mínimos.
Sarney não tinha forças para mexer
nas estruturas e está certo quando se
vangloria de ter conseguido pelo menos manter o país nos trilhos da democracia formal. Collor mexeu no
econômico, mas qualquer intenção
sua de reforma social ou política sucumbiu diante da avalanche de escândalos que lhe tirou legitimidade e
o derrubou. E FHC jogou tudo na reforma constitucional que lhe interessava, a que lhe garantiu a reeleição.
Estamos, portanto, para usar expressão da moda, com um baita déficit de direitos e, portanto, de reformas. O governo está concentrado em
dois fronts, o tributário e o previdenciário. Se tiver êxito, e tudo indica
que terá, precisará agradecer aos que
não fizeram a reforma política, desde
sempre considerada a mãe de todas
as reformas e desde antes do sempre
abandonada porque inconveniente
para qualquer tipo de governo.
O jogo duro do Planalto não só
usou as mazelas do sistema partidário para montar uma base de apoio
artificial, como estraçalhou ainda
mais os partidos, humilhando-os de
tal maneira que é difícil perceber neles vestígio de dignidade.
Vai ser curioso acompanhar o esforço do PT para fazer tramitar, após
as mudanças na Previdência e no sistema tributário, um novo modelo para o funcionamento dos partidos.
O outro déficit institucional terrível
é o de justiça, e também não se pode
enxergar o futuro com otimismo.
Qualquer tentativa de reformar o Judiciário encontra resistências proporcionais aos privilégios inegociáveis.
Aí também não se mexe.
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