São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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TRAGÉDIA NA RÚSSIA

Só quem já renunciou à própria humanidade e converteu-se num monstro poderia conceber invadir uma escola no dia mais festivo do ano e fazer reféns centenas de crianças, seus familiares e professores, ameaçando assassiná-los caso exigências políticas não fossem atendidas. Pior mesmo só cumprir a infame ameaça, como os terroristas tchetchenos acabaram fazendo na Escola Pública Nš1 na cidade de Beslan, na Ossétia do Norte, Rússia.
O resultado da ação terrorista, não sem a interferência pelo menos desastrada das forças de segurança russas, foi funesto: mais de 200 mortos e centenas de feridos. Não se tem notícia de outro atentado dessa magnitude visando especificamente crianças. Com esse ataque, o terrorismo internacional galgou um novo patamar de selvageria, se é que isso ainda era possível.
Não resta nenhuma dúvida de que os rebeldes tchetchenos e seus colaboradores são os responsáveis pela tragédia de Beslan, mas isso não deve servir de pretexto para que se deixe de criticar a política antiterrorismo do presidente russo, Vladimir Putin.
O histórico da Rússia ao lidar com crises de reféns é desastroso. Terroristas tchetchenos já realizaram ao menos duas grandes ações de seqüestro, uma num teatro em Moscou em 2002 e outra num hospital no Daguestão em 1995. Nas duas ocasiões, a polícia interveio, provocando a morte de mais de 100 pessoas.
Já era, portanto, de esperar que o país contasse com uma unidade antiterrorista capaz de lidar profissionalmente com situações dessa natureza. Fica a sensação de que Putin, ao querer demonstrar firmeza com os rebeldes tchetchenos -bandeira que lhe trouxe importantes dividendos políticos-, não estava bem preparado para preservar vidas inocentes.
As imagens de crianças desesperadas correndo seminuas e ensangüentadas foram o sinistro apogeu de uma semana terrível em que a sanha terrorista atacou com sua odiosa vileza em vários pontos do planeta.


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