São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O sangue dos inocentes

SÃO PAULO - O fotógrafo colombiano Julian Alberto Lineros foi um dos indicados para o prêmio da Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano na sua especialidade (o ganhador foi o brasileiro Maurício Lima). Julian fotografou uma espécie de escola dos paramilitares colombianos no meio do mato. No dia em que lhe tocou explicar como fizera o trabalho, o fotógrafo se referia sempre ao conflito em seu país como "nuestra guerra".
Como se fosse algo familiar, tão presente na sua vida (a guerra na Colômbia já dura mais tempo do que Julian tem de idade) como o pôr ou o nascer do sol todos os dias.
Essa absurda familiaridade com a violência vai-se tornando mais e mais universal -e mais e mais sangrenta, de que dá testemunho exemplar o caos de ontem na escola da Ossétia do Norte após a invasão das forças especiais russas que terminou em banho de sangue.
Quem imaginou que o sangrento século 20 daria lugar a um mundo mais sossegado percebe exatamente o inverso. Explosões de violência, uma rotina que o século 20 legou ao 21 no conflito Israel/palestinos, agora se espalham como praga.
Quem, como eu, (e minha geração) tudo o que aprendeu na escola sobre, por exemplo, o Afeganistão, era recitar "Afeganistão, capital Cabul", fica chocado ao verificar que a ampliação de seu conhecimento sobre o Afeganistão vem embrulhada em sangue. Assim como é apresentado agora a essa Ossétia do Norte também banhada em sangue. Pior: sangue de crianças.
Nunca esqueço frase que ouvi, faz anos, do escritor argentino Ernesto Sábato, para quem nós, adultos, de algo somos sempre culpados, mas as crianças, que culpa podem ter as crianças? Parece não haver mais inocentes no mundo moderno.
Moderno?


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