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CLÓVIS ROSSI
O sangue dos inocentes
SÃO PAULO - O fotógrafo colombiano Julian Alberto Lineros foi um dos
indicados para o prêmio da Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano na sua especialidade (o
ganhador foi o brasileiro Maurício
Lima). Julian fotografou uma espécie
de escola dos paramilitares colombianos no meio do mato. No dia em
que lhe tocou explicar como fizera o
trabalho, o fotógrafo se referia sempre ao conflito em seu país como
"nuestra guerra".
Como se fosse algo familiar, tão
presente na sua vida (a guerra na
Colômbia já dura mais tempo do que
Julian tem de idade) como o pôr ou o
nascer do sol todos os dias.
Essa absurda familiaridade com a
violência vai-se tornando mais e
mais universal -e mais e mais sangrenta, de que dá testemunho exemplar o caos de ontem na escola da Ossétia do Norte após a invasão das forças especiais russas que terminou em
banho de sangue.
Quem imaginou que o sangrento
século 20 daria lugar a um mundo
mais sossegado percebe exatamente
o inverso. Explosões de violência,
uma rotina que o século 20 legou ao
21 no conflito Israel/palestinos, agora
se espalham como praga.
Quem, como eu, (e minha geração)
tudo o que aprendeu na escola sobre,
por exemplo, o Afeganistão, era recitar "Afeganistão, capital Cabul", fica
chocado ao verificar que a ampliação de seu conhecimento sobre o Afeganistão vem embrulhada em sangue. Assim como é apresentado agora a essa Ossétia do Norte também
banhada em sangue. Pior: sangue de
crianças.
Nunca esqueço frase que ouvi, faz
anos, do escritor argentino Ernesto
Sábato, para quem nós, adultos, de
algo somos sempre culpados, mas as
crianças, que culpa podem ter as
crianças? Parece não haver mais inocentes no mundo moderno.
Moderno?
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