São Paulo, Sábado, 04 de Setembro de 1999
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O FHC de "Opinião"

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Convido o leitor a tentar adivinhar quem é o autor do pensamento que se segue:
"É visível que amarrar o crescimento ao trem da alegria da indústria automobilística num país que está longe da auto-suficiência petrolífera num momento de controle mundial deste produto é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Mas é pior do que isso: trata-se de um erro que terá consequências insanáveis".
Foi Luiz Inácio Lula da Silva? Difícil, não é? Afinal, Lula é filho indireto da indústria automobilística e não seria tão ingrato. Foi Leonel Brizola? Ele é nacionalista, mas não a esse ponto.
Terá sido o PC do B? Não sei. Ignoro qual é a posição do partido sobre a indústria de automóveis.
O autor chama-se Fernando Henrique Cardoso, em artigo que a censura do regime militar vetou para publicação no extinto semanário "Opinião", na edição 122 (fevereiro de 1975).
O artigo foi capturado pelo jornalista Maurício Maia em meio a uma pesquisa, que promete ser das mais saborosas, sobre a censura à mídia.
O crítico é, portanto, o mesmo presidente que hoje está promovendo não um, mas vários trens da alegria em favor da indústria automotiva.
Tudo bem que se passou praticamente um quarto de século, que o presidente já avisou que era para esquecer o que ele escreveu (pelo jeito, é para esquecer até o que ele escreveu mas não chegou a ser publicado por motivos alheios à vontade dele). Todo mundo tem o direito de mudar de opinião e praticar hoje o que antes era "uma irresponsabilidade".
De todo modo, é difícil entender como pode ser defensável entregar os escassos recursos de um país pobre para empresas portentosas como as que se beneficiam da ajuda do BNDES.
Mas o que mais incomoda, o que dá um verdadeiro frio na espinha, é imaginar o seguinte: e se o FHC de "Opinião" estivesse certo?


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