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O FHC de "Opinião"
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Convido o leitor a tentar
adivinhar quem é o autor do pensamento que se segue:
"É visível que amarrar o crescimento
ao trem da alegria da indústria automobilística num país que está longe
da auto-suficiência petrolífera num
momento de controle mundial deste
produto é, no mínimo, uma irresponsabilidade. Mas é pior do que isso: trata-se de um erro que terá consequências insanáveis".
Foi Luiz Inácio Lula da Silva? Difícil,
não é? Afinal, Lula é filho indireto da
indústria automobilística e não seria
tão ingrato. Foi Leonel Brizola? Ele é
nacionalista, mas não a esse ponto.
Terá sido o PC do B? Não sei. Ignoro
qual é a posição do partido sobre a indústria de automóveis.
O autor chama-se Fernando Henrique Cardoso, em artigo que a censura
do regime militar vetou para publicação no extinto semanário "Opinião",
na edição 122 (fevereiro de 1975).
O artigo foi capturado pelo jornalista Maurício Maia em meio a uma pesquisa, que promete ser das mais saborosas, sobre a censura à mídia.
O crítico é, portanto, o mesmo presidente que hoje está promovendo não
um, mas vários trens da alegria em
favor da indústria automotiva.
Tudo bem que se passou praticamente um quarto de século, que o presidente já avisou que era para esquecer o que ele escreveu (pelo jeito, é para esquecer até o que ele escreveu mas
não chegou a ser publicado por motivos alheios à vontade dele). Todo
mundo tem o direito de mudar de
opinião e praticar hoje o que antes
era "uma irresponsabilidade".
De todo modo, é difícil entender como pode ser defensável entregar os escassos recursos de um país pobre para
empresas portentosas como as que se
beneficiam da ajuda do BNDES.
Mas o que mais incomoda, o que dá
um verdadeiro frio na espinha, é imaginar o seguinte: e se o FHC de "Opinião" estivesse certo?
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