São Paulo, sexta-feira, 04 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O mundo não se curva, entende

SÃO PAULO - Fora do Brasil, o presidente eleito do Brasil já se chama Luiz Inácio Lula da Silva.
É impressionante como a grande mídia européia e (um pouco menos) a norte-americana trabalham com a certeza de que o candidato do PT será eleito -e já no primeiro turno.
Até a revista britânica "The Economist", que costumava ser mais cautelosa, tasca uma foto de Lula na capa do número que começou a circular na noite de quinta-feira com o título "O significado de Lula" (no geral, não é bom, acha a revista, como era previsível).
Também como se poderia prever, a mídia francesa foi aos comícios de Lula em cidades operárias (Guarulhos, Osasco) para resgatar um certo ar de romantismo na vitória do "operário transformado em presidente" (pelo menos no jornalismo europeu).
Ao contrário de "The Economist", preocupada com o PT populista e gastador, os franceses vêem em Lula "um esquerdista arrependido" ("Le Point") ou alguém que se aproximou do "social-liberalismo" de Tony Blair e de Lionel Jospin.
Fazia muitíssimos anos que não via tal movimentação da mídia internacional em relação ao Brasil. Creio que nem mesmo quando o real derreteu, no início de 1999, houve tanta exposição do país.
É claro que, em grande parte, a atração é pelo lado exótico: não é todo dia que um operário vira presidente da República (se é que vai virar) em qualquer lugar do mundo.
E, nos muitos anos recentes, também não é todo dia que a esquerda tem algo a festejar.
Inusitados à parte, é forçoso reconhecer que o Brasil tornou-se algo menos esotérico para o mundo desenvolvido depois de ter dominado a superinflação.
Um candidato com o perfil de Lula continuaria a ser uma atração, mas, agora, a agenda do país é menos incompreensível.


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