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CLÓVIS ROSSI
O mundo não se curva, entende
SÃO PAULO - Fora do Brasil, o presidente eleito do Brasil já se chama
Luiz Inácio Lula da Silva.
É impressionante como a grande
mídia européia e (um pouco menos)
a norte-americana trabalham com a
certeza de que o candidato do PT será eleito -e já no primeiro turno.
Até a revista britânica "The Economist", que costumava ser mais cautelosa, tasca uma foto de Lula na capa
do número que começou a circular
na noite de quinta-feira com o título
"O significado de Lula" (no geral,
não é bom, acha a revista, como era
previsível).
Também como se poderia prever, a
mídia francesa foi aos comícios de
Lula em cidades operárias (Guarulhos, Osasco) para resgatar um certo
ar de romantismo na vitória do "operário transformado em presidente"
(pelo menos no jornalismo europeu).
Ao contrário de "The Economist",
preocupada com o PT populista e
gastador, os franceses vêem em Lula
"um esquerdista arrependido" ("Le
Point") ou alguém que se aproximou
do "social-liberalismo" de Tony Blair
e de Lionel Jospin.
Fazia muitíssimos anos que não via
tal movimentação da mídia internacional em relação ao Brasil. Creio
que nem mesmo quando o real derreteu, no início de 1999, houve tanta exposição do país.
É claro que, em grande parte, a
atração é pelo lado exótico: não é todo dia que um operário vira presidente da República (se é que vai virar) em qualquer lugar do mundo.
E, nos muitos anos recentes, também não é todo dia que a esquerda
tem algo a festejar.
Inusitados à parte, é forçoso reconhecer que o Brasil tornou-se algo
menos esotérico para o mundo desenvolvido depois de ter dominado a
superinflação.
Um candidato com o perfil de Lula
continuaria a ser uma atração, mas,
agora, a agenda do país é menos incompreensível.
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