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RUY CASTRO
Tempos de traição
RIO DE JANEIRO - As eleições
são amanhã, mas já começou há algumas semanas a temporada nacional da traição. Em todo o país, candidatos a prefeito ou a vereador, de
variadas plumagens, passaram
mais tempo analisando pesquisas
do que fazendo campanha nas ruas,
apertando mãos suadas e comendo
croquete.
Neste momento, aos 44 do segundo tempo, ainda há candidatos a
vereador dando as costas ao candidato a prefeito de seu partido e fazendo acordos por baixo do pano
com um candidato adversário -às
vezes, com mais de um-, tendo em
vista as maiores probabilidades de
vitória ou de passagem deste para o
segundo turno.
Há também candidatos nanicos à
prefeitura abandonando a própria
candidatura e prometendo transferência de votos para o candidato de
um partido mais forte ou mais bem
situado nas pesquisas. Assim como
há governadores ou prefeitos trocando seus candidatos por outros. É
o império dos traíras. Sem falar em
que todos que fazem tais arreglos
de última hora estão traindo seus
eleitores, que um dia acreditaram
na firmeza de suas posições.
Esse é o problema com a política:
querer que ela comporte firmeza de
opiniões. No passado, havia um
partido que, primeiro, pigarreando,
e, depois, falando dois tons abaixo,
pretendia deter o monopólio dessa
firmeza: a UDN. Depois, viria o PT,
que Brizola chamou de "a UDN de
macacão". A prática provaria que
UDN e PT não eram, nem de longe,
tão firmes como se proclamavam.
É fatal. Os políticos são pragmáticos, e suas posições variam com as
circunstâncias -ou não seriam políticos. Já os eleitores são escoteiros: levam a sério suas convicções e
gostariam que os políticos também
levassem. Eu sei, é ingênuo e irrealista, mas que bom que os eleitores
sejam assim -para evitar que o cinismo tome conta de vez.
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