São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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RUY CASTRO

Tempos de traição

RIO DE JANEIRO - As eleições são amanhã, mas já começou há algumas semanas a temporada nacional da traição. Em todo o país, candidatos a prefeito ou a vereador, de variadas plumagens, passaram mais tempo analisando pesquisas do que fazendo campanha nas ruas, apertando mãos suadas e comendo croquete.
Neste momento, aos 44 do segundo tempo, ainda há candidatos a vereador dando as costas ao candidato a prefeito de seu partido e fazendo acordos por baixo do pano com um candidato adversário -às vezes, com mais de um-, tendo em vista as maiores probabilidades de vitória ou de passagem deste para o segundo turno.
Há também candidatos nanicos à prefeitura abandonando a própria candidatura e prometendo transferência de votos para o candidato de um partido mais forte ou mais bem situado nas pesquisas. Assim como há governadores ou prefeitos trocando seus candidatos por outros. É o império dos traíras. Sem falar em que todos que fazem tais arreglos de última hora estão traindo seus eleitores, que um dia acreditaram na firmeza de suas posições.
Esse é o problema com a política: querer que ela comporte firmeza de opiniões. No passado, havia um partido que, primeiro, pigarreando, e, depois, falando dois tons abaixo, pretendia deter o monopólio dessa firmeza: a UDN. Depois, viria o PT, que Brizola chamou de "a UDN de macacão". A prática provaria que UDN e PT não eram, nem de longe, tão firmes como se proclamavam.
É fatal. Os políticos são pragmáticos, e suas posições variam com as circunstâncias -ou não seriam políticos. Já os eleitores são escoteiros: levam a sério suas convicções e gostariam que os políticos também levassem. Eu sei, é ingênuo e irrealista, mas que bom que os eleitores sejam assim -para evitar que o cinismo tome conta de vez.


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