São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

Loucuras espelhadas

SÃO PAULO - Todo mundo parece contente com o tanto que empresas do Brasil estão vendendo para outros países. Com o tanto que deixamos de comprar lá fora. "O Brasil já fez o seu ajuste externo", dizem economistas, do Banco Central tucano ao PT. Todo mundo parece doido.
O tal "ajuste externo" quer dizer: o país vende mais do que compra no exterior e arruma dólares para pagar contas. Mas que ajuste é esse? O país está é sendo ajustado, foi à breca. Tem dívidas demais e quase nenhum crédito. Por isso falta dólar, que sobe de preço. Assim, o produto nacional fica mais barato, o estrangeiro, mais caro. Mas, para haver produtos exportáveis na quantidade que a crise exige, temos de consumir (e crescer) menos ou haverá inflação. Ou uma combinação das duas coisas.
Não dá para viver assim. Assim como não dava para viver com os déficits externos enormes do primeiro governo FHC, pendurado no fiado, que levaram o país à ruína. Agora, trocamos a loucura de sinal.
Não dá para exportar só com a ajuda do real desvalorizado. Decerto uma taxa de câmbio no lugar correto estimula empresas a olhar para o mercado externo. Decerto estamos em crise e não há muito a fazer por ora além de passar a pão e água a fim de vender mais. Mas isso não é ajuste, é gambiarra de mercado, feita à base de desemprego e fome (ou "subalimentação", como é moda dizer).
Há mais. Dólar caro barra importações importantes, que renovam a economia com tecnologia superior, que completam produtos que podemos exportar com maior valor, que melhoram o padrão de vida. Sem aumentar o nosso volume de comércio, não vamos longe. Precisamos de programas para exportar mais e para importar bem. Viver à base de moeda desvalorizada é receita de pobreza, assim como viver com moeda forte demais foi motivo de ruína.
Que o PT largue essa e outras bobagens, como festejar reajuste de salário mínimo com receita inflacionária. Tinham ficado tão sóbrios e já começam com governices tolas.


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