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VINICIUS TORRES FREIRE
Loucuras espelhadas
SÃO PAULO - Todo mundo parece contente com o tanto que empresas
do Brasil estão vendendo para outros
países. Com o tanto que deixamos de
comprar lá fora. "O Brasil já fez o seu
ajuste externo", dizem economistas,
do Banco Central tucano ao PT. Todo mundo parece doido.
O tal "ajuste externo" quer dizer: o
país vende mais do que compra no
exterior e arruma dólares para pagar
contas. Mas que ajuste é esse? O país
está é sendo ajustado, foi à breca.
Tem dívidas demais e quase nenhum
crédito. Por isso falta dólar, que sobe
de preço. Assim, o produto nacional
fica mais barato, o estrangeiro, mais
caro. Mas, para haver produtos exportáveis na quantidade que a crise
exige, temos de consumir (e crescer)
menos ou haverá inflação. Ou uma
combinação das duas coisas.
Não dá para viver assim. Assim como não dava para viver com os déficits externos enormes do primeiro governo FHC, pendurado no fiado, que
levaram o país à ruína. Agora, trocamos a loucura de sinal.
Não dá para exportar só com a ajuda do real desvalorizado. Decerto
uma taxa de câmbio no lugar correto
estimula empresas a olhar para o
mercado externo. Decerto estamos
em crise e não há muito a fazer por
ora além de passar a pão e água a fim
de vender mais. Mas isso não é ajuste,
é gambiarra de mercado, feita à base
de desemprego e fome (ou "subalimentação", como é moda dizer).
Há mais. Dólar caro barra importações importantes, que renovam a
economia com tecnologia superior,
que completam produtos que podemos exportar com maior valor, que
melhoram o padrão de vida. Sem aumentar o nosso volume de comércio,
não vamos longe. Precisamos de programas para exportar mais e para
importar bem. Viver à base de moeda desvalorizada é receita de pobreza, assim como viver com moeda forte demais foi motivo de ruína.
Que o PT largue essa e outras bobagens, como festejar reajuste de salário mínimo com receita inflacionária. Tinham ficado tão sóbrios e já
começam com governices tolas.
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