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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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RADICAIS SEM SAÍDA

Não surpreende que o primeiro ato de oposição propriamente dita às políticas seguidas até agora pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha vindo de dentro do Partido dos Trabalhadores. A chamada ala radical dos parlamentares petistas, ao cobrar o cumprimento de compromissos históricos do PT, incitou uma reação dura de lideranças governistas e partidárias. Ameaças veladas de expurgo dos descontentes mais exaltados começaram a circular.
A grita dos radicais era de esperar porque a mudança de orientação da elite petista nos últimos meses foi drástica. Quando os partidários do "não" à Alca e ao FMI, de uma ruptura com a política econômica de FHC, de um repúdio à presença no governo de representantes da finança globalizada etc. pressionam o ministro Palocci Filho, estão escudados em bandeiras e bordões históricos do PT, que até muito recentemente eram utilizados em documentos e manifestações do partido.
Mas a virada em direção ao pragmatismo -estampada exemplarmente no sinal de continuísmo da política econômica- parece sedimentada. Agora até o ideólogo do MST João Pedro Stedile diz que compreende a alta dos juros de janeiro, e a CUT admite que o Brasil participe das negociações da Alca.
A dúvida é se os chamados radicais podem tornar-se um foco de oposição importante ao governo Lula. Nas condições atuais de temperatura e pressão, a resposta negativa parece a mais correta. Apesar de representarem uma não desprezível fatia da bancada, a grande maioria desses parlamentares não tem interesse em soluções radicais, como a saída do partido, pois a sua sobrevivência política ficaria comprometida. Fora do PT, por exemplo, teriam muito mais dificuldades para reeleger-se.
O mais provável, portanto, é que -com uma ou outra exceção- os radicais não resistam, como grupo, às primeiras investidas do "centralismo democrático" da cúpula do PT.


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