|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RADICAIS SEM SAÍDA
Não surpreende que o primeiro ato de oposição propriamente dita às políticas seguidas
até agora pelo governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tenha vindo
de dentro do Partido dos Trabalhadores. A chamada ala radical dos
parlamentares petistas, ao cobrar o
cumprimento de compromissos históricos do PT, incitou uma reação
dura de lideranças governistas e partidárias. Ameaças veladas de expurgo dos descontentes mais exaltados
começaram a circular.
A grita dos radicais era de esperar
porque a mudança de orientação da
elite petista nos últimos meses foi
drástica. Quando os partidários do
"não" à Alca e ao FMI, de uma ruptura com a política econômica de FHC,
de um repúdio à presença no governo de representantes da finança globalizada etc. pressionam o ministro
Palocci Filho, estão escudados em
bandeiras e bordões históricos do
PT, que até muito recentemente
eram utilizados em documentos e
manifestações do partido.
Mas a virada em direção ao pragmatismo -estampada exemplarmente no sinal de continuísmo da
política econômica- parece sedimentada. Agora até o ideólogo do
MST João Pedro Stedile diz que compreende a alta dos juros de janeiro, e
a CUT admite que o Brasil participe
das negociações da Alca.
A dúvida é se os chamados radicais
podem tornar-se um foco de oposição importante ao governo Lula. Nas
condições atuais de temperatura e
pressão, a resposta negativa parece a
mais correta. Apesar de representarem uma não desprezível fatia da
bancada, a grande maioria desses
parlamentares não tem interesse em
soluções radicais, como a saída do
partido, pois a sua sobrevivência política ficaria comprometida. Fora do
PT, por exemplo, teriam muito mais
dificuldades para reeleger-se.
O mais provável, portanto, é que
-com uma ou outra exceção- os
radicais não resistam, como grupo,
às primeiras investidas do "centralismo democrático" da cúpula do PT.
Texto Anterior: Editoriais: ARRECADAÇÃO ESTÉRIL Próximo Texto: Editoriais: ALÉM DA GREVE Índice
|