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FERNANDO RODRIGUES
A coragem que falta
BRASÍLIA - Há quase uma semana o governo sangra em público. São contraditórias as opiniões sobre o encaminhamento das reformas constitucionais no Congresso.
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, falou em acelerar o trâmite
das propostas. Não explicou a forma.
Anteontem, disse ser contra mudanças no regimento da Casa. Minutos
depois, o presidente do Senado, José
Sarney, disse que sim, é necessário
mudar o regimento.
Agora, surgiu a idéia de criar megacomissões de cem deputados. Cinco grupos para as grandes reformas:
da Previdência, tributária, política,
trabalhista e da segurança pública. A
suposta vantagem seria envolver
quase todos os 513 deputados.
A discussão está fora de foco. Comissões sem um projeto sobre o qual
deliberar são inócuas. Os deputados
analisariam o sexo dos anjos sem votar nada. É preciso o governo explicitar como deseja cada uma das reformas, redigir textos preliminares e remetê-los ao Congresso.
Em conversas reservadas, não existe um ministro sem opinião a respeito de como fazer as reformas da Previdência e a tributária -para ficar
nas duas dadas como prioritárias pelo Palácio do Planalto. Descem aos
mínimos detalhes. Em público, a história é outra. "Temos de ouvir a sociedade" e "vamos debater com todas
as partes envolvidas" são as desculpas protelatórias usadas.
O lugar apropriado para debater é
o Congresso. Se o governo faz questão
de um conselho à parte, tudo bem.
Pode funcionar enquanto os projetos
de reforma queimam prazos de tramitação na Câmara.
Esse é o ponto. Para tramitar, um
projeto tem de existir. O Planalto precisaria assumir a autoria das reformas. Estar preparado para as críticas
das corporações. Até agora, parece
faltar coragem ao governo. Prefere
edulcorar suas idéias, "lavando-as"
no conselho paralelo. Imagina ser
possível construir um consenso. Não
é. Quando essa obviedade ficar clara,
poderá ser tarde demais.
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