|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Arrogância e miopia
RIO DE JANEIRO - Semana passada, comentando a iminente invasão do
Iraque pelos Estados Unidos, Nelson
Mandela disse que o presidente Bush
era "arrogante e míope".
Evidente que é arrogante e míope, e
muito mais do que isso. Milhões de
norte-americanos consideram corretas tanto a arrogância como a miopia de seu presidente, que continua
em alta, com elevado índice de aprovação em seu país.
Esse é o verdadeiro drama que estamos vivendo. Não é a vontade pessoal e deformada de um único homem que pode desencadear uma
guerra localizada, como a do Iraque,
mas a de milhões de cidadãos bem
nutridos, tecnologicamente bem aparelhados, que comem pipoca no cinema e bifes monstruosos nos churrascos dos fins de semana em seus jardins gramados.
Mandela também falou na possibilidade de um novo holocausto -e está certo. Sabe-se como uma guerra localizada começa, mas nunca se sabe
como ela acaba, ou se acaba realmente.
De certa forma, o conflito da Coréia, pouco depois da Segunda Guerra Mundial, ainda não acabou, ou
pior, continuou em outras frentes, como a do Vietnã e as duas anteriores
do Golfo Pérsico. Daí que me recuso a
considerar o ataque ao Iraque uma
guerra localizada, como foi, digamos,
a das Malvinas, entre a Inglaterra e a
Argentina -essa sim não deixou
rastros e foi motivada pelo delírio isolado de alguns militares argentinos.
No Iraque está em jogo o direito do
mais forte de patrulhar o mais fraco,
obrigá-lo a se curvar aos interesses
que negam a sua soberania. Não é
apenas o acesso ao petróleo que os Estados Unidos buscam. É o recado a
todos os povos que quem manda no
mundo é a Casa Branca, independente de seu eventual ocupante.
Míope e arrogante, Bush não contaminou os Estados Unidos com sua
arrogância e miopia. São milhões de
arrogantes e míopes que o fizeram
assim.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: A coragem que falta Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Qual é a meta? Índice
|