São Paulo, sexta-feira, 05 de março de 2004

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FARMÁCIA ELETRÔNICA

Desafia as autoridades de saúde pública o caso das farmácias virtuais que vendem medicamentos na internet sem exigir apresentação de receita médica. Segundo relatório da Jife (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes), é preocupante o aumento, verificado ao longo dos últimos dois anos, do chamado "cibertráfico".
Tem sido crescente no mundo inteiro a tendência de usuários de drogas substituírem produtos ilegais, como maconha e cocaína, por medicamentos de uso controlado, como anfetaminas e analgésicos.
A internet, já por natureza refratária a controles, torna-se um instrumento de terrível eficiência para a comercialização dessas drogas. Em alguns casos, a venda nem pode ser considerada ilegal, pois muitas das farmácias têm sede em países com normas pouco rígidas em relação à venda de medicamentos, estando assim fora da jurisdição do país em que o comprador se encontra.
Tentar disciplinar a internet é uma tarefa que se mostra fadada ao fracasso. Já investir em formas de evitar a entrada ilegal de produtos, principalmente via correio, poderia ser uma alternativa, mas os custos de vistoriar toda a correspondência internacional seriam proibitivos.
Essa não é a primeira vez que a disseminação de uma nova tecnologia coloca hábitos e mesmo leis em xeque. A imprensa de Gutenberg, por exemplo, revolucionou a Europa do século 15, tornando mais difícil o desejo dos soberanos de controlar o que se podia ler e pensar. No século 21, a internet, ao mesmo tempo em que permite a troca de informações em escala antes inimaginável, torna obsoletas legislações de diversos países. Com a rede, ficou mais difícil para Estados conseguir controlar, por exemplo, a pornografia, o jogo e a utilização indevida de fármacos.
Obviamente, muitos dos efeitos da internet -como sua vocação para escapar à censura- são desejáveis, outros, nocivos. Não há, porém, muito o que se possa fazer a respeito.


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