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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A "saddamização" dos EUA

SÃO PAULO - Em recente entrevista coletiva no QG das forças norte-americanas no Kuait, Arnim Stauth, enviado enviado da rede pública alemã ARD, protestou contra o que considera discriminação no tratamento de jornalistas de países que se opuseram à invasão.
"Não esperaríamos nada diferente de Saddam Hussein", esbravejou Stauth, com toda a razão, segundo o relato do jornal "Financial Times".
Comportamento à Saddam Hussein também teve Otto Reich, enviado especial da Casa Branca para o hemisfério Ocidental.
Em visita a países do Caribe, Reich passou um tremendo sermão nos governantes dos 15 países da Comunidade Caribenha por terem divulgado nota de condenação ao uso unilateral da força no caso do Iraque.
Reich disse que os Estados Unidos estavam "muito desapontados" e ameaçou: "Estudem muito cuidadosamente não apenas aquilo que dizem, mas as consequências do que os senhores dizem".
A chanceler Billie Miller, como o jornalista alemão, deu resposta à altura: "O embaixador Reich pareceu incapaz de aceitar que a expressão de um ponto de vista oposto por qualquer Estado soberano não é um ato hostil, mas, ao contrário, o mais vibrante exemplo de tradições democráticas e de liberdades que ambos esposamos".
A escritora canadense Margaret Atwood começa a duvidar de que os Estados Unidos continuem "esposando" democracia e liberdade. Em "Carta à América", publicada por "The Globe and Mail", Atwood diz:
"Você (América) punha-se de pé pela liberdade, honestidade e justiça; você protegia os inocentes. Eu acreditava nisso. Acho que você também acreditava. (...) Se você continuar ladeira abaixo, as pessoas no mundo todo vão parar de admirar as boas coisas sobre você. (...) Vão pensar que você abandonou o reinado da lei".
Ganhar a guerra está sendo fácil. Difícil será recuperar a admiração.


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