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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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VALDO CRUZ

Piquenique

BRASÍLIA - Enquanto o governo Lula comemora, bate bumbo, sente-se mais forte do que nunca por ter aprovado a emenda que trata do sistema financeiro, vem um sub do sub do sub do governo americano jogar água fria nos petistas.
Funcionário do Departamento de Estado dos EUA, James Carragher diz, segundo relato do jornalista Fernando Canzian, que não quer "estragar o piquenique de vocês, mas a lei de autonomia do Banco Central ainda precisa ser regulamentada".
Não fica só nisso. Afirma ainda: "A votação foi fácil e animou os mercados, mas há muito mais reformas complicadas pelo caminho. Vamos ver". Tudo num seminário para avaliar os cem dias de Lula.
Fora o velho e abominável estilo americano de querer ditar regras, a avaliação do funcionário dos EUA não é de se jogar fora. Afinal, o debate vai esquentar com as reformas tributária e da Previdência.
Um dos responsáveis pela negociação das reformas no Congresso, o líder do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), sente essa dificuldade no seu dia-a-dia.
É comum, lembra ele, passar todo dia por todo tipo de lobby no Congresso. São funcionários do Banco Central, aposentados do setor público, técnicos da Receita, todos defendendo aquilo que consideram seus direitos adquiridos.
Enquanto isso, relata, a copeira que serve cafezinho em sua sala, funcionária terceirizada que ganha R$ 300, não tem ninguém nos corredores do Congresso defendendo seus direitos. Até hoje, diz o deputado, ela nunca lhe pediu nada.
"Temos de proteger quem tem realmente um direito adquirido. Mas deveríamos, no debate das reformas, perguntar o que vamos fazer para garantir direitos àqueles que não os possuem. Hoje, milhões de brasileiros não têm Previdência Social."
No governo FHC, os lobbies dos corredores conseguiram travar a reforma da Previdência no setor público. Com o apoio do PT. Agora, Lula terá de enfrentar as mesmas corporações. Esse, sim, será o grande teste.


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