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VALDO CRUZ
Piquenique
BRASÍLIA - Enquanto o governo Lula comemora, bate bumbo, sente-se
mais forte do que nunca por ter aprovado a emenda que trata do sistema
financeiro, vem um sub do sub do sub
do governo americano jogar água
fria nos petistas.
Funcionário do Departamento de
Estado dos EUA, James Carragher
diz, segundo relato do jornalista Fernando Canzian, que não quer "estragar o piquenique de vocês, mas a lei
de autonomia do Banco Central ainda precisa ser regulamentada".
Não fica só nisso. Afirma ainda: "A
votação foi fácil e animou os mercados, mas há muito mais reformas
complicadas pelo caminho. Vamos
ver". Tudo num seminário para avaliar os cem dias de Lula.
Fora o velho e abominável estilo
americano de querer ditar regras, a
avaliação do funcionário dos EUA
não é de se jogar fora. Afinal, o debate vai esquentar com as reformas tributária e da Previdência.
Um dos responsáveis pela negociação das reformas no Congresso, o líder do governo na Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), sente
essa dificuldade no seu dia-a-dia.
É comum, lembra ele, passar todo
dia por todo tipo de lobby no Congresso. São funcionários do Banco
Central, aposentados do setor público, técnicos da Receita, todos defendendo aquilo que consideram seus
direitos adquiridos.
Enquanto isso, relata, a copeira que
serve cafezinho em sua sala, funcionária terceirizada que ganha R$ 300,
não tem ninguém nos corredores do
Congresso defendendo seus direitos.
Até hoje, diz o deputado, ela nunca
lhe pediu nada.
"Temos de proteger quem tem realmente um direito adquirido. Mas deveríamos, no debate das reformas,
perguntar o que vamos fazer para garantir direitos àqueles que não os
possuem. Hoje, milhões de brasileiros
não têm Previdência Social."
No governo FHC, os lobbies dos corredores conseguiram travar a reforma da Previdência no setor público.
Com o apoio do PT. Agora, Lula terá
de enfrentar as mesmas corporações.
Esse, sim, será o grande teste.
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