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São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

A segunda onda do governo Lula

SÃO PAULO - O governo Lula ora passa a mesma impressão do governo FHC em seus momentos de aparente bonança, de euforia autocomplacente e de cegueira em relação a desastres subterrâneos em curso.
Pode-se conceder aos petistas que seu governo tem só quatro meses, que receberam um país quebrado e que o desastre econômico subterrâneo não está perfeitamente configurado. Mas a omissão terá seu preço.
O comitê central do governo nega que vá se comprazer apenas em surfar na onda do dólar em queda e em erráticas ondas de capital externo. Promete que, a partir de maio, discute em público medidas que permitam ao país crescer sem que estourem suas contas externas, hoje a limitação central ao desenvolvimento.
Isto é, o governo tomaria medidas para estimular exportações e estimular o crescimento ali e aqui sem pressionar demais e a curto prazo o aumento de importações. Seria a segunda onda do governo, após o ajuste macroeconômico duro e puro.
Está difícil de ver de onde virá essa segunda onda. Não há dinheiro no Orçamento, a administração decente dos bancos federais limita financiamentos, o BNDES tem o dinheiro sabido e por ora não tem política, admite o comitê central. Programas inteligentes em habitação e saneamento viriam a calhar. A ver.
O núcleo do governo também acha que chegou a hora de dar cabo da politicalha que picotou ministérios e dinheiro do "social" entre amigos da casa. A Lei de Falências vai ao Congresso antes do voto das reformas. Mas onde estão outras medidas para reforçar o mercado de capitais? A autonomia do BC parece que fica mesmo para 2004, se tanto.
A tal segunda onda pode ter o reforço da aprovação das reformas, de inflação e juros menores. As reformas não são grande coisa em termos reais, apesar de algum teor redistributivo e de melhoria fiscal, mas douram a pílula para o mercado.
Mas o investimento externo produtivo cai e o nacional tão cedo não sai da toca. Sairá se e quando parecer que o país vai crescer. Para tanto, o resto do governo (Energia e Cidades em especial), também precisa mostrar serviço e cérebro.



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