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VINICIUS TORRES FREIRE
A segunda onda do governo Lula
SÃO PAULO - O governo Lula ora passa a mesma impressão do governo
FHC em seus momentos de aparente
bonança, de euforia autocomplacente e de cegueira em relação a desastres subterrâneos em curso.
Pode-se conceder aos petistas que
seu governo tem só quatro meses, que
receberam um país quebrado e que o
desastre econômico subterrâneo não
está perfeitamente configurado. Mas
a omissão terá seu preço.
O comitê central do governo nega
que vá se comprazer apenas em surfar na onda do dólar em queda e em
erráticas ondas de capital externo.
Promete que, a partir de maio, discute em público medidas que permitam
ao país crescer sem que estourem
suas contas externas, hoje a limitação central ao desenvolvimento.
Isto é, o governo tomaria medidas
para estimular exportações e estimular o crescimento ali e aqui sem pressionar demais e a curto prazo o aumento de importações. Seria a segunda onda do governo, após o ajuste
macroeconômico duro e puro.
Está difícil de ver de onde virá essa
segunda onda. Não há dinheiro no
Orçamento, a administração decente
dos bancos federais limita financiamentos, o BNDES tem o dinheiro sabido e por ora não tem política, admite o comitê central. Programas inteligentes em habitação e saneamento viriam a calhar. A ver.
O núcleo do governo também acha
que chegou a hora de dar cabo da politicalha que picotou ministérios e dinheiro do "social" entre amigos da
casa. A Lei de Falências vai ao Congresso antes do voto das reformas.
Mas onde estão outras medidas para
reforçar o mercado de capitais? A autonomia do BC parece que fica mesmo para 2004, se tanto.
A tal segunda onda pode ter o reforço da aprovação das reformas, de inflação e juros menores. As reformas
não são grande coisa em termos
reais, apesar de algum teor redistributivo e de melhoria fiscal, mas douram a pílula para o mercado.
Mas o investimento externo produtivo cai e o nacional tão cedo não sai
da toca. Sairá se e quando parecer
que o país vai crescer. Para tanto, o
resto do governo (Energia e Cidades
em especial), também precisa mostrar serviço e cérebro.
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