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NOVA ERA SUPRANACIONAL
A divulgação dos países que vão integrar a união monetária européia e a
escolha, no último fim-de-semana,
do primeiro presidente do Banco
Central Europeu (BCE) têm um significado histórico amplo. Confirma-se
o advento do embrião de um Estado
supranacional e democrático.
É uma conquista notável, em especial numa região traumatizada por
uma hedionda herança de guerras
fratricidas, ditaduras e genocídios.
O objetivo maior da convivência fraterna, entretanto, deverá enfrentar
ainda inúmeros obstáculos, menores
diante da façanha da integração, mas
nem por isso irrelevantes. O primeiro exemplo surgiu na própria reunião em que se definiria o novo presidente do BCE.
O holandês Wim Duisenberg só foi
nomeado depois de uma longa batalha em que os franceses exigiram -e
afinal obtiveram- o compromisso
de renúncia de Duisenberg na metade do mandato de oito anos, exatamente quando as novas notas e moedas deverão entrar em circulação.
Para os otimistas, trata-se de uma
disputa natural entre políticos por
poder, prestígio e visibilidade, que,
sob o impacto avassalador das forças
econômicas, se tornará apenas uma
nota de rodapé nos livros de história.
Para muitos analistas financeiros e
investidores, mais conservadores,
entretanto, esse foi um sinal de que a
gestão do BCE poderá ser excessivamente politizada, faltando-lhe assim
a independência para garantir que o
euro nasça suficientemente forte.
Na visão mais cética, o banco central da Alemanha, derrotado na disputa política, poderia até mesmo ser
forçado a uma elevação mais agressiva das suas taxas de juros para evitar
o risco de fugas de capitais. O arranhão no momento inaugural do euro
pode levar também a uma gestão
mais restritiva da política de juros do
BCE, a partir de janeiro de 99.
Ou seja, uma nova era supranacional começa na União Européia, mas
há sinais suficientes para crer que o
caminho rumo ao euro ainda será
bastante acidentado.
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