São Paulo, terça, 5 de maio de 1998

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NOVA ERA SUPRANACIONAL

A divulgação dos países que vão integrar a união monetária européia e a escolha, no último fim-de-semana, do primeiro presidente do Banco Central Europeu (BCE) têm um significado histórico amplo. Confirma-se o advento do embrião de um Estado supranacional e democrático.
É uma conquista notável, em especial numa região traumatizada por uma hedionda herança de guerras fratricidas, ditaduras e genocídios.
O objetivo maior da convivência fraterna, entretanto, deverá enfrentar ainda inúmeros obstáculos, menores diante da façanha da integração, mas nem por isso irrelevantes. O primeiro exemplo surgiu na própria reunião em que se definiria o novo presidente do BCE.
O holandês Wim Duisenberg só foi nomeado depois de uma longa batalha em que os franceses exigiram -e afinal obtiveram- o compromisso de renúncia de Duisenberg na metade do mandato de oito anos, exatamente quando as novas notas e moedas deverão entrar em circulação.
Para os otimistas, trata-se de uma disputa natural entre políticos por poder, prestígio e visibilidade, que, sob o impacto avassalador das forças econômicas, se tornará apenas uma nota de rodapé nos livros de história.
Para muitos analistas financeiros e investidores, mais conservadores, entretanto, esse foi um sinal de que a gestão do BCE poderá ser excessivamente politizada, faltando-lhe assim a independência para garantir que o euro nasça suficientemente forte.
Na visão mais cética, o banco central da Alemanha, derrotado na disputa política, poderia até mesmo ser forçado a uma elevação mais agressiva das suas taxas de juros para evitar o risco de fugas de capitais. O arranhão no momento inaugural do euro pode levar também a uma gestão mais restritiva da política de juros do BCE, a partir de janeiro de 99.
Ou seja, uma nova era supranacional começa na União Européia, mas há sinais suficientes para crer que o caminho rumo ao euro ainda será bastante acidentado.




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