|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RENDA TRANSFERIDA
Continua em curso no país
uma forte transferência de renda para o setor financeiro. De janeiro
a março, os bancos acumularam ganhos de R$ 4,7 bilhões, registrando
aumento de 18,7% sobre igual período do ano passado. A elevação dos
lucros pode ser explicada, em grande
parte, por aplicações em títulos públicos, corrigidos pela taxa Selic, e
pelo aumento dos juros cobrados
aos clientes, que subiram, na média,
de 48,5% para 58% ao ano.
Os bancos defendem-se, lembrando a inadimplência, o elevado patamar dos depósitos compulsórios e o
peso da incidência de impostos. Há,
além disso, falta de recursos para o
crédito. No Brasil, eles representam,
hoje, 23,3% do PIB. No Chile, por
exemplo, a fatia é de cerca de 70%.
Na realidade, mesmo involuntariamente, governo e sistema financeiro
têm sido, nos últimos anos, "sócios"
nessas distorções. O governo que critica os "spreads" é o mesmo que drena, com seus títulos e juros, os capitais que poderiam estar sendo destinados, a menor custo, às empresas e
aos consumidores. Já as instituições
financeiras podem até ter margem
para reduzir as taxas (a inadimplência, aliás, não cresceu, segundo dados do BC), mas encontram na política de juros altos oportunidades excelentes para maximizar lucros.
Resta o Banco Central, de quem todos esperam responsabilidade no
cumprimento das metas de inflação,
mas do qual se cobra, também, corte
nos juros. São pleitos, em determinadas circunstâncias, excludentes.
Não há solução mágica para o impasse, mas certamente o BC perdeu
uma "janela de oportunidade" para
mudar a rota da taxa Selic na última
reunião do Copom.
Há indicações, contudo, de que a
autoridade monetária, a custos sociais e econômicos gravíssimos, vá
continuar esticando a corda até que a
inflação lhe pareça, na imagem do
ministro Palocci, "morta e esquartejada". Até lá, o governo pode tentar
aliviar os "spreads", com a redução
do compulsório ou com a oferta de
empréstimos, a taxas menores, por
parte de instituições públicas ou cooperativas de crédito. Nada do essencial, porém, irá mudar.
Texto Anterior: Editoriais: JUROS EUROPEUS Próximo Texto: Editoriais: PROMESSAS HISTÓRICAS Índice
|