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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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RENDA TRANSFERIDA

Continua em curso no país uma forte transferência de renda para o setor financeiro. De janeiro a março, os bancos acumularam ganhos de R$ 4,7 bilhões, registrando aumento de 18,7% sobre igual período do ano passado. A elevação dos lucros pode ser explicada, em grande parte, por aplicações em títulos públicos, corrigidos pela taxa Selic, e pelo aumento dos juros cobrados aos clientes, que subiram, na média, de 48,5% para 58% ao ano.
Os bancos defendem-se, lembrando a inadimplência, o elevado patamar dos depósitos compulsórios e o peso da incidência de impostos. Há, além disso, falta de recursos para o crédito. No Brasil, eles representam, hoje, 23,3% do PIB. No Chile, por exemplo, a fatia é de cerca de 70%.
Na realidade, mesmo involuntariamente, governo e sistema financeiro têm sido, nos últimos anos, "sócios" nessas distorções. O governo que critica os "spreads" é o mesmo que drena, com seus títulos e juros, os capitais que poderiam estar sendo destinados, a menor custo, às empresas e aos consumidores. Já as instituições financeiras podem até ter margem para reduzir as taxas (a inadimplência, aliás, não cresceu, segundo dados do BC), mas encontram na política de juros altos oportunidades excelentes para maximizar lucros.
Resta o Banco Central, de quem todos esperam responsabilidade no cumprimento das metas de inflação, mas do qual se cobra, também, corte nos juros. São pleitos, em determinadas circunstâncias, excludentes. Não há solução mágica para o impasse, mas certamente o BC perdeu uma "janela de oportunidade" para mudar a rota da taxa Selic na última reunião do Copom.
Há indicações, contudo, de que a autoridade monetária, a custos sociais e econômicos gravíssimos, vá continuar esticando a corda até que a inflação lhe pareça, na imagem do ministro Palocci, "morta e esquartejada". Até lá, o governo pode tentar aliviar os "spreads", com a redução do compulsório ou com a oferta de empréstimos, a taxas menores, por parte de instituições públicas ou cooperativas de crédito. Nada do essencial, porém, irá mudar.


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