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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A ditadura e os juros

PARIS - Pior que o fato de o PT manter e até aprofundar a política econômica anterior é a continuidade também da ditadura do "pensamento único" que assola o planeta há já mais de uma década.
Na era FHC, qualquer um que tivesse críticas ou até mesmo singelas dúvidas a respeito da política econômica era classificado de neobobo, jurássico, fracassomaníaco.
Com a vitória de um partido teoricamente de oposição, o razoável seria esperar um esforço para romper a ditadura e criar um ambiente cultural propício ao debate de uma maneira menos preconceituosa, menos enviesada, menos safada.
Até porque, sejamos justos, ninguém tem a fórmula para virar o jogo econômico de forma a preservar a estabilidade e, ao mesmo tempo, começar a fechar a obscena brecha social que há no Brasil.
Não foi o que aconteceu. O próprio PT contribuiu para a interdição do debate ao estigmatizar como radicais os petistas que têm restrições a alguns aspectos das propostas governamentais e ao preparar o processo para expulsá-los. Agora, a ditadura volta-se contra o vice-presidente, José Alencar, pela sua campanha a favor da redução dos juros. Já aparece gente para dizer que Alencar não tem sensibilidade, atrapalha a governabilidade e que o cargo deveria ser extinto (o cargo, por enquanto).
Não se faz a pergunta preliminar: Alencar tem ou não razão ao dizer que a atividade econômica está sendo crescentemente sufocada e ao afirmar que se está produzindo uma monumental transferência de renda para o setor financeiro?
Se tem razão -e obviamente tem-, então não há governabilidade nem sensibilidade dignas de serem preservadas, se são, uma e outra, incapazes de resistir a uma verdade tão simples e tão evidente.
Desclassificar quem critica, em vez de ao menos tentar verificar se a crítica procede ou não, é um mecanismo totalitário. E burro, como se viu no governo passado: dois terços dos eleitores preferiram votar nos neobobos, jurássicos, fracassomaníacos.


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