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VALDO CRUZ
A doce vida da banca
BRASÍLIA - O Banco Central estava apanhando sozinho na cruzada contra os juros altos. Agora, chegou a vez
dos banqueiros, que, até o momento,
assistiam ao tiroteio de camarote.
Nada mais justo que eles fiquem
sob o mesmo fogo cruzado. Basta
olhar o tal de "spread" bancário -a
diferença entre o que o banqueiro paga ao captar seu dinheiro e o que cobra para emprestá-lo às empresas e
pessoas físicas.
Ele praticamente só sobe nos últimos meses. De junho do ano passado,
quando começava a esquentar a corrida eleitoral, até abril último, quando o risco de um calote já havia desaparecido, o "spread" passou de
26,92% para 34,10% ao ano.
Por que não caiu com a safra de
"boas notícias" do mercado? Os bancos devem ter uma explicação. Mas
documento entregue a Lula mostra
que será difícil convencer a nação de
que cobram um preço justo.
Até o ano passado, nada menos do
que 40% do tal de "spread" representava ganho dos bancos. Que negócio
dá tamanha margem de ganho? E
olha que ela vem subindo nos últimos
anos. Era de 33,70% em 99. Passou
para 36,40% em 2000.
Uma das justificativas mais usadas
pelos bancos é a alta inadimplência,
o risco dos caloteiros. Pois bem, ela,
que custa 17% do "spread", tem ficado estável nos últimos meses.
O documento foi elaborado pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Tem sido usado por Lula para defender que o grande problema não é a taxa do BC, mas o elevado "spread" bancário.
Sim e não. Claro que os ganhos dos
bancos têm sido enormes. O lucro deles cresceu 18,7% no primeiro trimestre de 2003. Subiu não apenas porque
os juros subiram mas porque o
"spread" também aumentou.
Só que o governo é o grande cliente
dos bancos. Fica com grande parte do
dinheiro depositado nos bancos, pagando uma bela remuneração. O resto os bancos emprestam à taxa que
acham melhor. Não precisam muito
dessas operações. A doce vida está garantida pelos juros do BC.
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