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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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VALDO CRUZ

A doce vida da banca

BRASÍLIA - O Banco Central estava apanhando sozinho na cruzada contra os juros altos. Agora, chegou a vez dos banqueiros, que, até o momento, assistiam ao tiroteio de camarote.
Nada mais justo que eles fiquem sob o mesmo fogo cruzado. Basta olhar o tal de "spread" bancário -a diferença entre o que o banqueiro paga ao captar seu dinheiro e o que cobra para emprestá-lo às empresas e pessoas físicas.
Ele praticamente só sobe nos últimos meses. De junho do ano passado, quando começava a esquentar a corrida eleitoral, até abril último, quando o risco de um calote já havia desaparecido, o "spread" passou de 26,92% para 34,10% ao ano.
Por que não caiu com a safra de "boas notícias" do mercado? Os bancos devem ter uma explicação. Mas documento entregue a Lula mostra que será difícil convencer a nação de que cobram um preço justo.
Até o ano passado, nada menos do que 40% do tal de "spread" representava ganho dos bancos. Que negócio dá tamanha margem de ganho? E olha que ela vem subindo nos últimos anos. Era de 33,70% em 99. Passou para 36,40% em 2000.
Uma das justificativas mais usadas pelos bancos é a alta inadimplência, o risco dos caloteiros. Pois bem, ela, que custa 17% do "spread", tem ficado estável nos últimos meses.
O documento foi elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Tem sido usado por Lula para defender que o grande problema não é a taxa do BC, mas o elevado "spread" bancário.
Sim e não. Claro que os ganhos dos bancos têm sido enormes. O lucro deles cresceu 18,7% no primeiro trimestre de 2003. Subiu não apenas porque os juros subiram mas porque o "spread" também aumentou.
Só que o governo é o grande cliente dos bancos. Fica com grande parte do dinheiro depositado nos bancos, pagando uma bela remuneração. O resto os bancos emprestam à taxa que acham melhor. Não precisam muito dessas operações. A doce vida está garantida pelos juros do BC.


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