RIO DE JANEIRO - Em crônica recente na Folha Online, logo após a divulgação dos maiores devedores da Previdência, mesmo sem conhecimento de causa, sem arquivos permanentes e pesquisas eventuais, dei um respeitável chute que poderia ser desmentido pelos fatos. Na imensa lista de empresas em débito com o INSS, mais da metade deveria ser de contribuintes substanciosos da campanha eleitoral que levou Lula ao governo.
Poderia especular a maracutaia (palavra do agrado presidencial), mostrando o óbvio: empresas devedoras de muito pagam um pouco para ficarem livres da cobrança maior.
É certo que cada caso será um caso, mas o conjunto da maracutaia, que é antiga e, o que é pior, tradicional, está incorporado aos nosso hábitos políticos e explica a falência da representação democrática como um todo.
Sabemos e proclamamos, com o peito estufado, ao som de cívicos hinos, que a democracia é a melhor forma de governo, ou a menos ruim, se comparada com a ditadura, a com monarquia absolutista, com os regimes fundamentalistas etc.
A reforma política e a eleitoral podem não ser as mais importantes no plano econômico e financeiro. Contudo são as mais urgentes, porque, sem elas, o poder econômico se apodera do Estado, deixando ao presidente da República o brilho das viagens ao exterior, das recepções, das peladas na Granja do Torto.
Ano que vem, teremos eleições municipais em todo o país e repetiremos, em escala menor, os mesmos vícios das eleições federais e estaduais. As campanhas cada vez mais caras solicitarão maiores recursos. E quem dá recebe alguma coisa em troca.
O financiamento das campanhas funciona como um vírus que infecta todo o sistema. Pode parecer insignificante se comparado aos grandes desafios da nação, mas o estrago que faz nos circuitos internos do computador, ou melhor, da máquina do governo, torna venal toda a estrutura do Estado.


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