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POLÍCIA DO MUNDO
A aceitação por parte do governo
iugoslavo do acordo de paz proposto
pelo G-8 (as sete potências ocidentais mais a Rússia) pode pôr fim a
uma guerra que já custou no mínimo
um desastre humano, a desmoralização da lei internacional e anos de esforço para estabilizar e integrar a região balcânica à Europa.
Mas, mesmo que o ditador Slobodan Milosevic traduza em atos sua
intenção declarada de retirar as forças policiais e militares de Kosovo, e
mesmo que cessem os bombardeios
sobre a Iugoslávia, a solução definitiva para o conflito ainda esbarra em
obstáculos consideráveis.
A começar pela exigência dos EUA
de que a força de paz que deverá ocupar a Província de Kosovo e garantir
o retorno dos refugiados de origem
albanesa tenha a liderança exclusiva
da Otan, em detrimento da ONU.
Além de humilhante para a Rússia,
aliada dos iugoslavos, que já se manifestou contra, tal pleito é visto pela
própria Europa ocidental como mais
uma tentativa norte-americana de se
impor como patrulha planetária.
Falar em autonomia de Kosovo, como faz o acordo de paz, por ora não
passa de retórica. Com a possibilidade de que parem os bombardeios está em jogo não apenas a disputa de
poder pela tutela internacional sobre
a Província, que deve se manter, ainda não se sabe como, por um bom
período, como a pretensão de Bill
Clinton de transformar a rendição de
Milosevic em vitória política interna.
O apoio da opinião pública norte-americana aos ataques militares vinha
declinando conforme se evidenciaram suas trapalhadas e custos humanos. Há eleição presidencial nos EUA
no ano que vem e Clinton agora fará
tudo para transformar a capitulação
de Milosevic, ainda que parcial, em
vitória de seu governo.
À medida que a prioridade do dirigente iugoslavo se resume agora a
manter-se no poder, torna-se cada
vez mais evidente que o maior obstáculo à solução do conflito nos Bálcãs
está na pretensão americana de se
impor como polícia do mundo.
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