São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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POLÍCIA DO MUNDO

A aceitação por parte do governo iugoslavo do acordo de paz proposto pelo G-8 (as sete potências ocidentais mais a Rússia) pode pôr fim a uma guerra que já custou no mínimo um desastre humano, a desmoralização da lei internacional e anos de esforço para estabilizar e integrar a região balcânica à Europa.
Mas, mesmo que o ditador Slobodan Milosevic traduza em atos sua intenção declarada de retirar as forças policiais e militares de Kosovo, e mesmo que cessem os bombardeios sobre a Iugoslávia, a solução definitiva para o conflito ainda esbarra em obstáculos consideráveis.
A começar pela exigência dos EUA de que a força de paz que deverá ocupar a Província de Kosovo e garantir o retorno dos refugiados de origem albanesa tenha a liderança exclusiva da Otan, em detrimento da ONU. Além de humilhante para a Rússia, aliada dos iugoslavos, que já se manifestou contra, tal pleito é visto pela própria Europa ocidental como mais uma tentativa norte-americana de se impor como patrulha planetária.
Falar em autonomia de Kosovo, como faz o acordo de paz, por ora não passa de retórica. Com a possibilidade de que parem os bombardeios está em jogo não apenas a disputa de poder pela tutela internacional sobre a Província, que deve se manter, ainda não se sabe como, por um bom período, como a pretensão de Bill Clinton de transformar a rendição de Milosevic em vitória política interna.
O apoio da opinião pública norte-americana aos ataques militares vinha declinando conforme se evidenciaram suas trapalhadas e custos humanos. Há eleição presidencial nos EUA no ano que vem e Clinton agora fará tudo para transformar a capitulação de Milosevic, ainda que parcial, em vitória de seu governo.
À medida que a prioridade do dirigente iugoslavo se resume agora a manter-se no poder, torna-se cada vez mais evidente que o maior obstáculo à solução do conflito nos Bálcãs está na pretensão americana de se impor como polícia do mundo.


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