São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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O pato manco

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Jamais recebi tantas cartas eletrônicas como na quinta-feira e ontem, a propósito do texto "FHC não é Collor", publicado no dia 3.
Teria sido uma grande massagem no ego, não fosse um pequeno detalhe: todas, exceto uma (a mais curtinha, por sinal), eram para criticar, em geral com grande veemência, uma até com estupidez, o que a torna descartável.
Que o presidente anda com o prestígio fortemente machucado não chega a ser novidade. Mas que, mesmo entre os leitores da Folha, não encontre mais que uma pessoa capaz de distingui-lo de Fernando Collor, no aspecto ético-moral, aí fica complicado. Afinal, nas pesquisas feitas entre o leitorado deste jornal, tanto na eleição de 94 como na de 98, FHC era o candidato preferido pela maioria, ainda que relativa (mais relativa, salvo erro de memória, do que no conjunto do eleitorado brasileiro).
O argumento básico das cartas eletrônicas pode ser resumido no seguinte: as políticas praticadas por FHC causaram mais prejuízos ao país do que a corrupção e os escândalos constatados na era Collor.
Minha resposta foi, também em resumo, a seguinte: se, com FHC, a questão é de políticas, com Collor era de polícia, o que, para mim, faz toda uma importante diferença. Pelas respostas à minha resposta chegadas até ontem, não consegui comover minimamente um só dos críticos.
Até aí, nada de mais. Não sou candidato, a não ser ao desemprego. O problema é do presidente, que, no ritmo em que vai nas pesquisas, vira um "lame duck" (pato manco, o jargão norte-americano para governante ferido politicamente em pleno exercício do mandato). Pior: manco com praticamente todo o mandato pela frente.
Parece ficar reforçada a tese de editorial desta Folha, na quinta-feira, segundo a qual o problema de FHC não é mais apenas o de recuperar a economia, mas também a sua credibilidade, no sentido mais amplo do termo.


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