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O pato manco
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Jamais recebi tantas cartas eletrônicas como na quinta-feira e
ontem, a propósito do texto "FHC não
é Collor", publicado no dia 3.
Teria sido uma grande massagem no
ego, não fosse um pequeno detalhe: todas, exceto uma (a mais curtinha, por
sinal), eram para criticar, em geral
com grande veemência, uma até com
estupidez, o que a torna descartável.
Que o presidente anda com o prestígio fortemente machucado não chega
a ser novidade. Mas que, mesmo entre
os leitores da Folha, não encontre
mais que uma pessoa capaz de distingui-lo de Fernando Collor, no aspecto
ético-moral, aí fica complicado. Afinal, nas pesquisas feitas entre o leitorado deste jornal, tanto na eleição de
94 como na de 98, FHC era o candidato preferido pela maioria, ainda que
relativa (mais relativa, salvo erro de
memória, do que no conjunto do eleitorado brasileiro).
O argumento básico das cartas eletrônicas pode ser resumido no seguinte: as políticas praticadas por FHC
causaram mais prejuízos ao país do
que a corrupção e os escândalos constatados na era Collor.
Minha resposta foi, também em resumo, a seguinte: se, com FHC, a questão é de políticas, com Collor era de
polícia, o que, para mim, faz toda
uma importante diferença. Pelas respostas à minha resposta chegadas até
ontem, não consegui comover minimamente um só dos críticos.
Até aí, nada de mais. Não sou candidato, a não ser ao desemprego. O problema é do presidente, que, no ritmo
em que vai nas pesquisas, vira um "lame duck" (pato manco, o jargão norte-americano para governante ferido
politicamente em pleno exercício do
mandato). Pior: manco com praticamente todo o mandato pela frente.
Parece ficar reforçada a tese de editorial desta Folha, na quinta-feira, segundo a qual o problema de FHC não
é mais apenas o de recuperar a economia, mas também a sua credibilidade,
no sentido mais amplo do termo.
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