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Sim, FHC não é Collor. Ainda
FERNANDO RODRIGUES
Brasília - Vou jogar lenha nessa fogueira. Na terça-feira Carlos Heitor
Cony escreveu que "baixou definitivamente no Planalto" o fantasma de
Collor. Na quinta-feira, Clóvis Rossi
argumentou não ser possível comparar FHC a Collor, pois o tucano não é
um aventureiro.
Ficarei na coluna do meio, o meu espaço nesta página 1-2 da Folha: FHC
ainda não pode ser comparado com
Collor, mas nada impede que isso
aconteça em breve.
Para começar, o próprio FHC colocou Collor no debate, quando ninguém ousava falar disso em público.
Está registrado em "O Globo" da semana passada que o presidente adverte, "em conversas, que ninguém conseguirá transformá-lo em Fernando
Collor".
"Ninguém conseguirá" é um exagero
do presidente. Talvez imagine que seu
passado honrado o livrará das interpretações possíveis dos fatos do presente. Tudo dependerá de como a população reputar o que FHC faz. E a
população, mostra o Datafolha, acha
que o presidente agiu mal no leilão da
Telebrás (58% na cidade de São Paulo
têm essa opinião).
A população é sábia. Tomemos o caso de Ulysses Guimarães, por exemplo.
Muitos o têm na memória como um
democrata, honesto, estadista e outros
adjetivos usados para elogiar políticos. Já eu, que acompanhei jornalisticamente sua fracassada campanha
presidencial em 89, considerava Ulysses apenas uma pessoa mesquinha, de
inteligência mediana e um dos principais responsáveis por essa porcaria de
Constituição que o Brasil tem.
Mas a minha opinião não importa.
Importa é que Ulysses Guimarães
construiu uma imagem pública. E é
essa imagem pública que fica.
No caso de FHC, a imagem pública
está avariada profundamente. Pela
primeira vez sua honra foi atingida
em cheio, por causa do grampo no
BNDES. O presidente tem noção clara
da situação, pois as pesquisas qualitativas do governo apontam isso.
Em resumo, FHC ainda não é um
Collor. Mas, se continuar a governar
do seu jeito, pode rapidamente se
transformar em um "outro Collor",
pois Fernando ele já é.
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