São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
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Sim, FHC não é Collor. Ainda

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Vou jogar lenha nessa fogueira. Na terça-feira Carlos Heitor Cony escreveu que "baixou definitivamente no Planalto" o fantasma de Collor. Na quinta-feira, Clóvis Rossi argumentou não ser possível comparar FHC a Collor, pois o tucano não é um aventureiro.
Ficarei na coluna do meio, o meu espaço nesta página 1-2 da Folha: FHC ainda não pode ser comparado com Collor, mas nada impede que isso aconteça em breve.
Para começar, o próprio FHC colocou Collor no debate, quando ninguém ousava falar disso em público. Está registrado em "O Globo" da semana passada que o presidente adverte, "em conversas, que ninguém conseguirá transformá-lo em Fernando Collor".
"Ninguém conseguirá" é um exagero do presidente. Talvez imagine que seu passado honrado o livrará das interpretações possíveis dos fatos do presente. Tudo dependerá de como a população reputar o que FHC faz. E a população, mostra o Datafolha, acha que o presidente agiu mal no leilão da Telebrás (58% na cidade de São Paulo têm essa opinião).
A população é sábia. Tomemos o caso de Ulysses Guimarães, por exemplo. Muitos o têm na memória como um democrata, honesto, estadista e outros adjetivos usados para elogiar políticos. Já eu, que acompanhei jornalisticamente sua fracassada campanha presidencial em 89, considerava Ulysses apenas uma pessoa mesquinha, de inteligência mediana e um dos principais responsáveis por essa porcaria de Constituição que o Brasil tem.
Mas a minha opinião não importa. Importa é que Ulysses Guimarães construiu uma imagem pública. E é essa imagem pública que fica.
No caso de FHC, a imagem pública está avariada profundamente. Pela primeira vez sua honra foi atingida em cheio, por causa do grampo no BNDES. O presidente tem noção clara da situação, pois as pesquisas qualitativas do governo apontam isso.
Em resumo, FHC ainda não é um Collor. Mas, se continuar a governar do seu jeito, pode rapidamente se transformar em um "outro Collor", pois Fernando ele já é.


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