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O FRONT ESQUECIDO
A Casa Branca vem, desde novembro, trabalhando numa
nova estratégia de segurança nacional, já apelidada de Doutrina Bush,
que deve ganhar expressão formal
dentro de alguns meses. O conceito
de dissuasão, que preponderou durante a Guerra Fria, deverá ceder espaço para a noção de ataque preventivo, inclusive com armas nucleares.
O presidente Bush percebeu que a
dissuasão é inútil contra o terror.
Ações preventivas devem ser aplicadas contra países que sabidamente
patrocinam ataques terroristas, como foi o caso do Afeganistão, mas,
embora elas possam conter momentaneamente o terror, não terão sucesso em eliminar as células terroristas
propriamente ditas. Estas operam
transnacionalmente. Podem estar
em países aliados ou até nos EUA.
Outra idéia aventada por Washington, a pressão sobre o mercado negro de armas, é limitada. Se, com 40
anos de repressão ao narcotráfico, os
EUA não foram capazes de acabar
com as drogas, é improvável que
consigam pôr um fim à venda ilegal
de armas, atividade ainda mais furtiva que o comércio de entorpecentes.
A grande dificuldade reside na assimetria do conflito. É praticamente
impossível deter "mísseis humanos", gente que se disponha a morrer para realizar um atentado, como
se verifica em Israel. Enquanto as autoridades têm de exercer vigilância 24
horas por dia, terroristas só precisam acertar uma vez, aproveitar-se
de um pequeno lapso da segurança.
A nova doutrina de segurança nacional não poderá garantir que os
EUA estarão imunes a novos ataques. Politicamente, contudo, ela
poderá ser considerada um sucesso
enquanto os terroristas não acertarem um novo alvo norte-americano.
Caso isso ocorra, rapidamente tenderá a ser vista como fracasso.
Uma ação dos EUA, para ser efetiva
-e ainda assim só em longo prazo-, teria de tocar nas questões políticas que hoje alimentam o terrorismo, como o problema palestino.
Sintomaticamente, é a frente da luta
contra o terror que Washington tem
deixado quase abandonada.
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