São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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O FRONT ESQUECIDO

A Casa Branca vem, desde novembro, trabalhando numa nova estratégia de segurança nacional, já apelidada de Doutrina Bush, que deve ganhar expressão formal dentro de alguns meses. O conceito de dissuasão, que preponderou durante a Guerra Fria, deverá ceder espaço para a noção de ataque preventivo, inclusive com armas nucleares.
O presidente Bush percebeu que a dissuasão é inútil contra o terror. Ações preventivas devem ser aplicadas contra países que sabidamente patrocinam ataques terroristas, como foi o caso do Afeganistão, mas, embora elas possam conter momentaneamente o terror, não terão sucesso em eliminar as células terroristas propriamente ditas. Estas operam transnacionalmente. Podem estar em países aliados ou até nos EUA.
Outra idéia aventada por Washington, a pressão sobre o mercado negro de armas, é limitada. Se, com 40 anos de repressão ao narcotráfico, os EUA não foram capazes de acabar com as drogas, é improvável que consigam pôr um fim à venda ilegal de armas, atividade ainda mais furtiva que o comércio de entorpecentes.
A grande dificuldade reside na assimetria do conflito. É praticamente impossível deter "mísseis humanos", gente que se disponha a morrer para realizar um atentado, como se verifica em Israel. Enquanto as autoridades têm de exercer vigilância 24 horas por dia, terroristas só precisam acertar uma vez, aproveitar-se de um pequeno lapso da segurança.
A nova doutrina de segurança nacional não poderá garantir que os EUA estarão imunes a novos ataques. Politicamente, contudo, ela poderá ser considerada um sucesso enquanto os terroristas não acertarem um novo alvo norte-americano. Caso isso ocorra, rapidamente tenderá a ser vista como fracasso.
Uma ação dos EUA, para ser efetiva -e ainda assim só em longo prazo-, teria de tocar nas questões políticas que hoje alimentam o terrorismo, como o problema palestino. Sintomaticamente, é a frente da luta contra o terror que Washington tem deixado quase abandonada.


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