|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Cinco de agosto
RIO DE JANEIRO - Em 1954, no 5 de agosto, o major Vaz morria num
atentado aqui no Rio, e sua morte
provocaria, 19 dias depois, o suicídio
do presidente Vargas.
Por que estou lembrando um fato
pré-histórico, do tempo das cavernas
da memória? Tendência mórbida à
hora da saudade?
Pode ser tudo isso, mas há uma
atualidade nessa reminiscência. A
crise de agosto de 54, a mais dramática de nossa história, foi resultado dos
terceiros escalões do poder. Nem o
presidente, nem os ministros, nem os
funcionários mais graduados do governo tiveram participação no atentado.
O crime foi tramado e executado
por gente dos escalões mais baixos,
que, apesar de subalterna, tinha
acesso a gabinetes importantes da estrutura do poder naquela época.
Nada que envolvesse direta ou indiretamente o presidente, mas as heranças trazidas da campanha, alguns dos financiadores que atuavam
na sombra (nada que se compare aos
atuais patronos dos candidatos), desafiaram a lealdade do responsável
pela segurança presidencial - e aí a
bola de neve cresceu e rolou, tingindo-se de sangue no início e no fim de
sua trajetória.
Não estou lembrando a tragédia
daquele ano para comemorar uma
data macabra. Temos pela frente
mais uma eleição presidencial e é importante que o eleitorado examine
não apenas os cabeças-de-chapa,
mas as forças que os apóiam e, sobretudo, quem os apóia, o que querem, o
que representam, como agem para
alcançar seus objetivos de poder e fortuna.
Getúlio foi um dos presidentes mais
honestos e austeros da República.
Morreu endividado. Apesar da herança recebida de seu pai, teve de pedir empréstimo a um banco para
comprar sua fazendinha em Itu. A
dívida foi saldada por seus filhos,
anos mais tarde.
Não basta ao candidato ser honesto. A corte que ele traz - ou que a ele
se associa - precisa também ser acima de qualquer suspeita.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Falta capitalismo Próximo Texto: Bóris Fausto: Os méritos da burocracia Índice
|