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ELIANE CANTANHÊDE
Dando ordem à bagunça
BRASÍLIA - Nem MST, nem sem-teto, nem invasão de prédios públicos. Na
avaliação do "núcleo duro" do governo, a histeria do mercado financeiro
se deve a uma desconfiança: a de que
Lula não vá conseguir aprovar uma
boa reforma da Previdência. Daí a
forte subida do dólar e do risco-Brasil.
Lula se reuniu ontem com Palocci
(Fazenda), José Dirceu (Casa Civil),
Gushiken (Comunicação) e Dulci
(Secretaria Geral) e pediu empenho
total na aprovação da reforma entre
hoje e amanhã na Câmara.
Dirceu passou um "pente-fino",
bancada por bancada, e concluiu que
o governo tem maioria, com sobra,
para aprovar o parecer do relator José Pimentel (PT). Mas registrou: é importante obter o máximo de votos do
PT. A questão é política e simbólica.
Na expectativa do "núcleo duro",
as defecções petistas serão muito menores do que as 30 alardeadas e poderão surpreender de tão poucas. Alguns darão voto em separado, outros
farão muxoxo. Mas a maioria não
deve deixar o governo na mão.
O PMDB, o PFL e o PSDB deverão
dar montes de votos à reforma -que
eles defendem desde o governo
FHC-, mas com alguns "não" para
marcar posição. E, no PDT, haverá
votos contra Brizola, a favor do governo. Na ponta do lápis de Dirceu,
dá para votar e aprovar bem.
O resultado não importa só para o
equilíbrio fiscal. Importa muito para
acalmar os ânimos de consultorias e
de investidores internacionais, que
não vêm com bom humor os recuos e
demonstrações de fragilidade na tramitação das reformas.
Quanto à unificação de movimentos sociais (MST, sem-teto, Pastoral
da Terra, sindicatos...), que estariam
armando mobilização nacional para
13/9: o Planalto não crê. Alega que as
motivações são muito diferentes. Um
quer terra; outro, casa; o terceiro, salário. Cada caso é um caso, diz. Vêm
aí boas novas para habitação e reforma agrária. Mas, se houver invasões
ilegais, chama a polícia!
Trata-se de tentar dar ordem à bagunça e afastar uma perspectiva maldita: a perda de controle.
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