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CARLOS HEITOR CONY
Reformas e crises
RIO DE JANEIRO - Não é data redonda, mas são 49 anos daquele 5 de
agosto que iniciaria a maior crise política do Brasil, com a morte do major Vaz na rua Tonelero, a qual, 19
dias mais tarde, provocaria o suicídio
do presidente Getúlio Vargas.
Historicamente, é admitida a tese
de que a crise de agosto de 1954 seria
o embrião do movimento de dez anos
depois, que inaugurou o regime autoritário presidido pelos militares.
Houve o intervalo dos anos dourados, de 1956 a 1961, mas os elementos
de discórdia nacional ficaram na geladeira e foram requentados no microondas das reformas pretendidas
pelo governo de João Goulart.
Já lembrei, em crônicas anteriores,
o clima reformista do governo deposto pelo golpe de 64. Não estou insinuando nada, tampouco chorando
pelo leite derramado. Mas as reformas daquele período eram realmente
institucionais e mexiam com o estatuto da terra, com a remessa de lucros, com a concentração de renda e
com a soberania nacional ameaçada
pelos trustes de dentro e de fora do
país.
Não eram reformas como as que
agora o governo está promovendo,
que mexem apenas na contabilidade
oficial, tentando equilibrar orçamentos, no dever-e-haver próprio dos
guarda-livros zelosos, que terminam
aqueles imensos balanços preocupados até com os míseros centavos em
orçamentos de bilhões que devem ser
os mesmos na receita e na despesa.
É evidente que não se pode desdenhar a contabilidade da Previdência
falida, a injustiça e o absurdo do fisco, as deformações da legislação política e eleitoral. São reformas importantes e necessárias, mas que não justificam a estagnação do país em todas as frentes e fundos.
Nas vésperas de seu suicídio, Vargas inaugurou uma siderúrgica em
Minas Gerais. A crise política roncava feio e forte, mas o país continuava
indo para a frente.
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