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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Reformas e crises

RIO DE JANEIRO - Não é data redonda, mas são 49 anos daquele 5 de agosto que iniciaria a maior crise política do Brasil, com a morte do major Vaz na rua Tonelero, a qual, 19 dias mais tarde, provocaria o suicídio do presidente Getúlio Vargas.
Historicamente, é admitida a tese de que a crise de agosto de 1954 seria o embrião do movimento de dez anos depois, que inaugurou o regime autoritário presidido pelos militares. Houve o intervalo dos anos dourados, de 1956 a 1961, mas os elementos de discórdia nacional ficaram na geladeira e foram requentados no microondas das reformas pretendidas pelo governo de João Goulart.
Já lembrei, em crônicas anteriores, o clima reformista do governo deposto pelo golpe de 64. Não estou insinuando nada, tampouco chorando pelo leite derramado. Mas as reformas daquele período eram realmente institucionais e mexiam com o estatuto da terra, com a remessa de lucros, com a concentração de renda e com a soberania nacional ameaçada pelos trustes de dentro e de fora do país.
Não eram reformas como as que agora o governo está promovendo, que mexem apenas na contabilidade oficial, tentando equilibrar orçamentos, no dever-e-haver próprio dos guarda-livros zelosos, que terminam aqueles imensos balanços preocupados até com os míseros centavos em orçamentos de bilhões que devem ser os mesmos na receita e na despesa.
É evidente que não se pode desdenhar a contabilidade da Previdência falida, a injustiça e o absurdo do fisco, as deformações da legislação política e eleitoral. São reformas importantes e necessárias, mas que não justificam a estagnação do país em todas as frentes e fundos.
Nas vésperas de seu suicídio, Vargas inaugurou uma siderúrgica em Minas Gerais. A crise política roncava feio e forte, mas o país continuava indo para a frente.


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