São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Você vai pagar com traição?
GEDDEL VIEIRA LIMA
Ou as mudanças valem para todos agora, ou devem valer para todos no futuro. A injustiça do tratamento desigual para os inativos se aprofunda no cenário de preços elevados de medicamentos de uso continuado, juros escorchantes, economia recessiva, desemprego. E, nessas circunstâncias, a aposentadoria cada vez mais representando o sustento de toda a família. Para que se mantenha a coerência filosófica da reforma depois dos recuos do governo, a não-taxação dos atuais inativos é um imperativo. Além de a medida já ter sido derrotada quatro vezes no Congresso e de tratar-se de direito adquirido, de ato jurídico perfeito, pesa agora também a necessidade de assegurar o que é justo, coerente e íntegro. O afago aos servidores ativos jogou a sanha arrecadatória do governo exclusivamente nas costas dos inativos. Espero que o Congresso e meu partido, o PMDB, não deixem essa conta sobrar para os aposentados, que não têm grande poder de mobilização como os que se encontram em atividade. E, ao trazer essas reflexões, faço-o autorizado por quem sempre defendeu a necessidade de uma reforma consistente da Previdência, que a viabilize. Igualdade, no entanto, e o mínimo de coerência são pedras basilares sem as quais não se sustenta nenhuma mudança. O PT de hoje, felizmente, abandonou a intransigência que caracterizava o PT de ontem, substituindo-a, infelizmente, pela falta de firmeza na ação e de clareza nas idéias. A inversão de posturas se evidencia, sobretudo, pela insistência com que o presidente Lula e seus auxiliares repetem a falácia da "herança maldita". Recorre-se a tal "herança" de forma inteligentemente seletiva. Afinal o PT tem se apropriado, ainda que indevidamente, de patrimônios administrativos do governo Fernando Henrique. Foi apropriação indébita, por exemplo, receber nos EUA o prêmio pelo programa de combate à Aids, sem registrar que a homenagem se referia ao projeto criado e implementado no governo anterior. Da mesma forma, o PT apossou-se do sucesso da agricultura brasileira conquistado pelo trabalho corajoso do ex-ministro Pratini de Moraes. Tão verborrágico nas críticas às políticas sociais do governo passado, o governo Lula, também desonestamente, calou-se frente os avanços no Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro, medido pela ONU. Para além do que seja razoável, jactam-se de ter, na economia, resgatado efeitos da seletiva "herança maldita" que fizeram o dólar disparar, o risco Brasil subir e o fluxo de financiamento externo cair. Outra vez a imprudência de omitir que a economia se desarrumou quando ficou nítida a perspectiva de vitória do PT de ontem, pela insegurança que o partido causava aos agentes econômicos nacionais e internacionais. Hoje renegam suas crenças (seriam crenças?) para guiar a economia usando exageradamente o manual que o Pedro Malan esqueceu na gaveta da Fazenda. Com o passar do tempo, a falta de idéias acabará minando a confiança da sociedade e da mídia. Poderá não haver mais ponderações sobre as contradições do governo. De minha parte, com a postura de quem é fiel à decisão das urnas, contribuirei com a crítica construtiva e com o meu voto na Câmara pela implantação das medidas que conduzam o Brasil ao paraíso que prometeram. Torço para que o presidente Lula atenda às expectativas da sociedade que o elegeu. Prefiro não ver virar hino o samba de Beth Carvalho entoado já por muitos, na passagem de algum integrante do PT: "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Geddel Vieira Lima, 44, deputado federal pelo PMDB-BA e presidente do partido no Estado, é o primeiro-secretário da Câmara dos Deputados. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Denis Lerrer Rosenfield: Questão social e questão policial Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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