São Paulo, terça-feira, 05 de outubro de 2004 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES A incrível realidade do Fed
JORGE BOAVENTURA
E o dólar, lastreado agora não no ouro, mas no formidável poderio econômico e militar americano, continuou a ser o padrão monetário referencial mundial. Seu lastro, entretanto, constitui-se nas sanções econômicas e, se necessário, no emprego brutal e explícito da força -vide caso Iraque. Cumpre, a bem da verdade, dizer que a junta em que têm assento os representantes dos acionistas majoritários de 12 bancos particulares é presidida por alguém nomeado pelo governo americano. Como, porém, quem vem exercendo, por cerca de 20 anos, a referida presidência é o sr. Alan Greenspan, tudo indica que, se é duvidosa ainda a vitória do sr. George W. Bush ou a do sr. Kerry, parece que não o é a recondução, mais uma vez, do sr. Greenspan à presidência do Fed. Mas, para que coisas de tal magnitude aconteçam e a maioria dos povos não se dê conta -referimo-nos ao povão dos diferentes países-, é necessário "opiá-los", confundi-los. E o ópio indispensável e que se tenta impor, inclusive à força, de que a pressão sobre os povos islâmicos é exemplo claro, é a forma degradada e aviltada do ideal democrático, a que chamam democracia, fundada na deliberada confusão entre o conceito de liberdade no plano metafísico, cujo atributo caracterizador é o de não sofrer restrições, e o de liberdade como exercício por parte de seres, como somos todos, portadores de boas e de más tendências. Liberdade como um ideal que se esgota em si mesmo, é como uma carta sem destinatário e sem conteúdo. Já dizia John Salisbury, no século 13, que não há ideal superior à liberdade, a não ser a virtude. Se é, acrescentava, "que se pode falar de liberdade na ausência de virtude, ou desta na ausência de liberdade". A nobreza do exercício da liberdade existe na medida da nobreza do fim que visa alcançar. O panorama do mundo degradado e brutal em que estamos vivendo, indagamos ao âmago da consciência do leitor, justifica ou condena a forma prostituída e aviltada de democracia que tentam -"et pour cause"- impor-nos a todos? Não exatamente a todos, pois há uma ínfima minoria que se locupleta, ou julga se locupletar, de tanta injustiça. Quem é ela, ou melhor, quem a simboliza? Convém pensar, a respeito, no que foi exposto sobre o Fed. Jorge Boaventura, 80, ensaísta e escritor, é conselheiro do Comando da Escola Superior de Guerra. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES José Genoino: Comparações e contestações Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|