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CLÓVIS ROSSI
O tamanho de Lula
SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva cresceu para uns três metros só pelo fato de ter ganho a eleição, a julgar
por alguns textos jornalísticos e por
algumas análises da mídia.
É curioso, porque Lula tem estatura
para ser presidente da República desde as eleições presidenciais de 1989.
Portanto, não há ou não deveria haver novidade nesse fato.
Acima de tudo, espanta-me o espanto com o fato de as chamadas
massas estarem encantadas com Lula. Quem acompanhou as greves no
ABC no final dos anos 70 já sabia disso faz um quarto de século.
Com um detalhe que só torna o espanto ainda mais espantoso: a idolatria a Lula, naqueles momentos, vinha não dos mais desvalidos e que,
por isso mesmo, agarram-se a todo tipo de misticismo como esperança
derradeira, mas de metalúrgicos curtidos na luta sindical nas difíceis circunstâncias impostas pelo regime militar e pela legislação de exceção.
Aliás, Lula só é o candidato virtualmente inamovível do PT, eleição
após eleição, exatamente porque sua
comunicação com a massa tem essa
característica meio mística, meio respeito a quem Deus ou a natureza (ao
gosto de cada qual) carimbou como
líder nato.
Suspeito que o novo ambiente de
reverência a Lula se deva ao fato de
que ao público historicamente fascinado por ele e pelo PT somou-se, agora, uma fatia da elite e da classe média, que, antes os satanizava.
Desconfio também que o endeusamento ao antigo demônio se deve à
convicção de que Lula está domesticado e não mais defende a revogação
de privilégios históricos como condição indispensável para pagar a dívida social.
A menos que consiga fazer um pacto social em que todos ganhem (hipótese de que duvida, por exemplo, a
deputada petista Luciana Genro, recém-eleita federal pelo Rio Grande),
Lula vai -logo, logo- encolher de
tamanho aos olhos do andar de cima
ou aos do andar de baixo.
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