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ELIANE CANTANHÊDE
Choque de realidade
BRASÍLIA - De um petista de bom calibre, por precaução: "Não tem saída.
No primeiro ano, não dá para fazer
muito diferente do que o Malan faz".
Um maldoso poderia dizer que
"nem no segundo, nem no terceiro,
nem no quarto ano..." Mas isso seria
rendição ao "modelo neoliberal" que
o povo brasileiro derrotou nas urnas.
Não é o que se espera de Lula.
O que ele e a cúpula do PT vêm perseguindo é racionalidade. Durante a
campanha, levanta-se a bola do candidato e da mudança; depois, baixa-se a bola da esperança. Especialmente para os aliados mais ansiosos.
Lula, José Dirceu, Antônio Palocci e
outros do chamado "núcleo duro" do
futuro governo fazem uma espécie de
via-crucis pelos movimentos sociais
alinhados ao partido (tipo CUT e
MST) e por setores empresariais que
acabaram aderindo (como Fiesp).
Ontem, foi a vez de esquerda, direita,
centro e governadores do próprio PT.
O objetivo foi pedir unidade e calma nas reivindicações, avisando que
o governo Lula vai repetir -durante
o primeiro ano, pelo menos- várias
práticas que o partido condenava no
governo FHC e o mesmo discurso:
"Faz-se o que é possível".
Enquanto sossega os seus próprios
leões em reuniões como a de ontem, o
comando lulista trata de dar carne
aos leões do Congresso. Os aliados do
PL e do PTB são famintos, mas os petistas ainda não viram nada. Os do
PMDB são insaciáveis.
Por falar nisso, o "Fome Zero", feito
para distrair a turma e dar o carimbo
social ao novo governo, já começou
bombardeado de tudo quanto é lado,
até do PT. Não é, senador Suplicy?
Aos que tentam acusar a gente de
criticar tudo e todos, ou de torcer contra o novo governo, o que se tenta
aqui é ajudar a divulgar a atual
mensagem do próprio PT: "Não vem
que não tem!". Não tem recursos.
E é assim que o governo vai se
transferindo dos tucanos para os petistas, confirmando que ninguém governa só com intenções, por melhores
que sejam. Tem de somar, diminuir,
desagradar e fechar as contas. Até
mesmo o mito Lula e o PT.
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