São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Acerto de contas ARNALDO CARRILHO
A sociedade cansou-se de tantas
incertezas e tanto empenho dos
nossos social-democratas em provar
que "o mercado não erra". Adam
Smith, legítimo pai do liberalismo, jamais preconizaria medidas recessivas
para uma economia como a nossa.
Deve-se, ao mesmo tempo, chamar às falas as redes televisivas privadas, cujo poder dentro do Estado é incomensurável, solicitando-lhes colaboração. Caso não atendam a esse apelo, adote-se nova legislação concessiva, criando-se para tal um conselho social da radiodifusão, desprovido de vícios corporativos. Liberdade de expressão exige autonomias conceituais de indivíduos e empresas, engajando-se ao menos em exibir cerca de 60% de produções nacionais, sul-americanas, européias, asiáticas e africanas. Temos de pular a cerca do curral americano, sob pena de continuarmos neste isolamento do resto do planeta. Ainda no que tange ao setor, do próximo governo requerem-se cuidados especiais com as TVs públicas, em estado de abandono. Necessitam todas de investimentos, aquisição de equipamentos, renovação de programas e treinamento de pessoal, além de influxos tecnológicos aprimorados. A mecânica das renúncias fiscais, fontes de captação de recursos financeiros incentivados, revela um vício de origem: projetos aprovados pelo Ministério da Cultura ou por secretarias estaduais e municipais de Cultura não atingem o povo; ficam submetidos ao alvedrio das "políticas" de empresas públicas ou privadas, manipuladoras de dinheiros que não lhes pertencem. Os burocratas lavam as mãos, enquanto operadores culturais, equivocadamente designados de "produtores" -na verdade, atravessadores de negócios-, engalfinham-se para conquistar ou preservar "chasses gardées". Há que pôr cobro a essa perversão, mediante fundos depositados nos tesouros das três órbitas da Federação e administrados pelos órgãos competentes, responsáveis perante a sociedade. Deve-se, a bem da verdade objetiva, ressaltar mais uma vez que são públicos os recursos incentivados. Não cabe às empresas aplicá-los como querem. O corolário é meridiano: dinheiro público se investe em projetos públicos. Diretamente, sem intermediários. Isso é elementar em políticas públicas. Arnaldo Carrilho, 65, diplomata, é diretor-presidente da Riofilme S.A. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Paulo Rabello de Castro: Uma nova unanimidade, crescer Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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