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CLAUDIA ANTUNES
O espetáculo do grampo
RIO DE JANEIRO - "Alô! Vê se dá para pegar um dinheiro aí. Pega R$ 20
mil, porque eu rodei. Rapidinho, que
tô na mão dos policiais." A frase faz
parte de uma conversa telefônica
grampeada em que um traficante,
preso por policiais militares, pede que
cúmplices no morro dos Macacos, na
zona norte do Rio, arrumem o dinheiro para que seja liberado.
Divulgada na última terça-feira pelo secretário de Segurança, Anthony
Garotinho, a gravação garantiu o espetáculo nos noticiários noturnos e o
chamariz para os leitores dos jornais
locais do dia seguinte.
Nos grampos da chamada Operação Transparência, como naqueles
da Anaconda, policiais, magistrados,
empresários, traficantes e contrabandistas se igualam na linguagem chula, na verve da malandragem, nos
apelidos infames. O público, voyeur,
vibra. Os "espertos" contemplam as
próprias entranhas. Os que suam para pagar as contas e as prestações
sentem-se vingados da justiça e da segurança que não têm no dia-a-dia.
A Ordem dos Advogados do Brasil
protestou recentemente. Queixou-se
tanto da "desarrazoada utilização"
das interceptações telefônicas como
da divulgação dos diálogos de pessoas investigadas. Não há sinal, no
entanto, de que haverá recuo das
promotorias ou das polícias.
No Rio, a Secretaria da Segurança
comprou neste ano uma central de
busca eletrônica que permite monitorar 800 ligações ao mesmo tempo.
Nem a Justiça do Estado nem a Federal têm estatísticas de interceptações
autorizadas, mas é possível ter uma
idéia de escala quando se sabe que só
a 1ª Central de Inquéritos, uma das
três do Ministério Público Estadual,
pede, por mês, uma média de 50
grampos. A maioria é aceita.
Há abusos e sensacionalismo, sem
dúvida. Na Bahia, gravações feitas legalmente foram usadas para espionagem particular. Na Operação Sucuri, em março, 23 agentes federais
presos com base em escuta foram liberados, porque as provas eram frágeis. Todo cuidado é pouco, mas o
grampo, quando legal, ainda é melhor do que nada.
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