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Infame
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Infame. Não cabe outra
qualificação para o torneio de picuinhas em que se empenharam o presidente Fernando Henrique Cardoso e o
governador Itamar Franco, para explorar a desgraça das vítimas das enchentes, conforme o detalhado relato
de Eliane Cantanhêde ontem publicado por esta Folha.
A corrida para exibir-se primeiro
ante as câmeras de TV visitando os
flagelados seria apenas patética não
fosse deprimente.
Para completar, é apenas cópia do
que fazem outros governantes em circunstâncias parecidas, sempre sob recomendação de seus assessores de
imagem, os homens que verdadeiramente governam hoje em dia, porque
mandam na agenda dos governantes.
É claro que FHC seria criticado também se não corresse a Minas e ao Rio
de Janeiro, aí por omissão. Mas seria
menos criticado se:
1 - Tivesse seu governo liberado os
recursos necessários para pelo menos
atenuar os efeitos das habituais chuvas fortes de todo verão, o que não
aconteceu.
2 - Tivesse tido a sensibilidade de
anunciar uma verba decente para socorrer as vítimas, em vez dos R$ 5 milhões agora prometidos. É só fazer as
contas: se os desabrigados eram, até
anteontem, 47 mil, essa verba corresponde à ninharia de R$ 106,38 para
cada um deles.
Já seria pouco em circunstâncias
normais. Vira pó para quem perdeu
tudo ou quase tudo como consequência das inundações.
E, de quebra, obriga a comparar
com o gasto da Embratel e da Prefeitura do Rio de Janeiro com a festa de
réveillon do presidente e sua corte. Foram R$ 500 mil, para cerca de 500
convidados, o que dá um custo de R$
1.000 "per capita". Dez vezes, portanto, o que ganharão as vítimas.
É bem o retrato da diferença de tratamento (e de vida) para os brasileiros do andar de cima e do andar de
baixo, como os qualifica Elio Gaspari
com o brilho habitual.
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