|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
A gordura americana
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - De uns tempos para
cá, aqueles que passam pelos Estados
Unidos voltam impressionados com o
número de pessoas obesas da sociedade americana. O cinema esconde esse
detalhe. Nas telas só aparecem figuras
malhadas, esbeltas, quando surge um
gordo ou uma gorda é na base da caricatura. A realidade é outra.
Quando li o clássico de Gibbon sobre
a decadência do império romano, fiquei impressionado porque, entre as
causas apontadas para o declínio (a
extensão das fronteiras, os exércitos
cada vez mais mercenários, o trono
imperial leiloado entre generais etc.),
figura o excesso dos banhos, dos tepidários, caldários e frigidários onde os
romanos passavam horas.
Não sei não. O império romano durou uns cinco séculos ou mais, simbolicamente. O império americano começou em 1945, mais exatamente em
1989, quando se livrou da competição
de uma superpotência rival. É portanto um império recente.
Durará pouco se os americanos continuarem a engordar. Povo pragmático, que se esforça em ser politicamente
correto, criou como derivativo dos
prazeres prosaicos, que os povos subdesenvolvidos cultivam, uma voracidade mal dirigida para suntuosos
sundaes, tortas cinematográficas,
além do trivial variado que é o hambúrguer, a batata frita, a pipoca e a
Coca-Cola.
Mau gosto à parte, é um cardápio
explosivo em termos de calorias. Durante a Copa do Mundo, na França,
sentei-me num café de Montparnasse
com um amigo e ficamos observando.
Mulheres que vinham aos arrancos,
arrastando arrobas de carnes mal-ajambradas, falavam inglês com
aquele sotaque inconfundível.
Emblema desse novo layout da americana média é aquela estagiária da
Casa Branca, que de gordinha sensual
passou para gordona assumida. Acho
que será por aí que o império americano não durará muito.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Tromba-d'água Próximo Texto: Fernando de Barros e Silva: Síndrome de Rubião Índice
|