São Paulo, Quinta-feira, 06 de Janeiro de 2000


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A gordura americana

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - De uns tempos para cá, aqueles que passam pelos Estados Unidos voltam impressionados com o número de pessoas obesas da sociedade americana. O cinema esconde esse detalhe. Nas telas só aparecem figuras malhadas, esbeltas, quando surge um gordo ou uma gorda é na base da caricatura. A realidade é outra.
Quando li o clássico de Gibbon sobre a decadência do império romano, fiquei impressionado porque, entre as causas apontadas para o declínio (a extensão das fronteiras, os exércitos cada vez mais mercenários, o trono imperial leiloado entre generais etc.), figura o excesso dos banhos, dos tepidários, caldários e frigidários onde os romanos passavam horas.
Não sei não. O império romano durou uns cinco séculos ou mais, simbolicamente. O império americano começou em 1945, mais exatamente em 1989, quando se livrou da competição de uma superpotência rival. É portanto um império recente.
Durará pouco se os americanos continuarem a engordar. Povo pragmático, que se esforça em ser politicamente correto, criou como derivativo dos prazeres prosaicos, que os povos subdesenvolvidos cultivam, uma voracidade mal dirigida para suntuosos sundaes, tortas cinematográficas, além do trivial variado que é o hambúrguer, a batata frita, a pipoca e a Coca-Cola.
Mau gosto à parte, é um cardápio explosivo em termos de calorias. Durante a Copa do Mundo, na França, sentei-me num café de Montparnasse com um amigo e ficamos observando. Mulheres que vinham aos arrancos, arrastando arrobas de carnes mal-ajambradas, falavam inglês com aquele sotaque inconfundível.
Emblema desse novo layout da americana média é aquela estagiária da Casa Branca, que de gordinha sensual passou para gordona assumida. Acho que será por aí que o império americano não durará muito.



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