São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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NA CONTRAMÃO

Um trânsito como o de São Paulo já está muito além do alcance de qualquer obra viária. Por mais túneis, passagens subterrâneas e elevados que se construam, os congestionamentos permanecerão e até se agravarão numa cidade cuja frota vem ganhando entre 400 e 500 novos veículos por dia nos últimos anos. A imagem que cabe é a de alguém munido de um pedaço de pano tentando enxugar um iceberg.
O que de mais parecido existe com uma solução passa por uma mudança de paradigma: o transporte individual -notadamente carros que levam um único passageiro- precisa dar lugar a sistemas coletivos como ônibus e metrô. Os meios para fazê-lo são conhecidos: pedágio urbano e restrições como o rodízio de veículos de par com investimentos na melhoria da rede de transporte coletivo.
Diante desse quadro, a decisão da Prefeitura de São Paulo de dar início à construção de dois túneis sob a avenida Brigadeiro Faria Lima, um na altura da avenida Rebouças e outro na da avenida Cidade Jardim, na zona sudoeste da cidade, parece, para dizer o menos, tipicamente eleiçoeira. É até possível que as passagens subterrâneas promovam um alívio localizado e passageiro naquelas áreas, mediante um investimento altamente discutível de R$ 149 milhões.
De resto, alguns especialistas vêm apontando problemas técnicos nos projetos. Como as vias beneficiadas possuem muitos semáforos, há quem afirme que a passagem apenas fará o motorista chegar mais rapidamente ao próximo sinal fechado.
A cidade de São Paulo tem conhecida experiência com obras mais vistosas do que úteis -muitas delas tendo servido como fonte para irregularidades. Os túneis da prefeita Marta Suplicy parecem ter mais um discutível sentido político do que propriamente técnico. E politicamente a atual administração infelizmente parece-se cada vez mais com a de um Paulo Maluf ou a de um Jânio Quadros -gestões que o antigo PT, com razão, se esmerou em combater.


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