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NA CONTRAMÃO
Um trânsito como o de São
Paulo já está muito além do alcance de qualquer obra viária. Por
mais túneis, passagens subterrâneas
e elevados que se construam, os congestionamentos permanecerão e até
se agravarão numa cidade cuja frota
vem ganhando entre 400 e 500 novos
veículos por dia nos últimos anos. A
imagem que cabe é a de alguém munido de um pedaço de pano tentando
enxugar um iceberg.
O que de mais parecido existe com
uma solução passa por uma mudança de paradigma: o transporte individual -notadamente carros que levam um único passageiro- precisa
dar lugar a sistemas coletivos como
ônibus e metrô. Os meios para fazê-lo são conhecidos: pedágio urbano e
restrições como o rodízio de veículos
de par com investimentos na melhoria da rede de transporte coletivo.
Diante desse quadro, a decisão da
Prefeitura de São Paulo de dar início à
construção de dois túneis sob a avenida Brigadeiro Faria Lima, um na altura da avenida Rebouças e outro na
da avenida Cidade Jardim, na zona
sudoeste da cidade, parece, para dizer o menos, tipicamente eleiçoeira.
É até possível que as passagens subterrâneas promovam um alívio localizado e passageiro naquelas áreas,
mediante um investimento altamente discutível de R$ 149 milhões.
De resto, alguns especialistas vêm
apontando problemas técnicos nos
projetos. Como as vias beneficiadas
possuem muitos semáforos, há
quem afirme que a passagem apenas
fará o motorista chegar mais rapidamente ao próximo sinal fechado.
A cidade de São Paulo tem conhecida experiência com obras mais vistosas do que úteis -muitas delas tendo servido como fonte para irregularidades. Os túneis da prefeita Marta
Suplicy parecem ter mais um discutível sentido político do que propriamente técnico. E politicamente a
atual administração infelizmente parece-se cada vez mais com a de um
Paulo Maluf ou a de um Jânio Quadros -gestões que o antigo PT, com
razão, se esmerou em combater.
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